quinta-feira, janeiro 11, 2007






O inatropelável Sérgio Daniel.
(Uma trama em 2 capítulos)
.Capítulo Primeiro:- "O Bob's Funcionário do mês"




Nunca, se você perguntasse por aquelas vilas sobre O inatropelável, lhe ergueriam o dedo na direção de Sérgio Daniel,ou sequer se você indagasse algumas das moças passantes se alguma delas era familiar com Sérgio Daniel,e depois de um resultado negativo insistisse dizendo-lhes:"- aquele O inatropelável-",você teria um sinal de reconhecimento,ou mesmo procurando no google por inatropeláveis de todas as espécies ainda assim seria quase impossível que algo sobre Sérgio Daniel se exibisse na tela de seu computador.
Nem tão pouco era este adjetivo exclamado logo depois de abraçar Sérgio Daniel como saudação,não detinha inatropelável em seu nome,não era uma espécie de cargo,nem apelidinho carinhoso de infância, até mesmo já fora atropelado umas duas vezes em toda sua vida,a questão de estar me referindo aqui a Sérgio Daniel como O inatropelável é apenas uma,simplérrima e absurdamente fácil de entender,eu posso.
Permito-me descrever o Doutor Sérgio Daniel da maneira que mais me interessa,sem nunca ignorar verdades que possam ou não depender de pontos de vista,falar de sua maneira peculiar de segurar o alicate do dentista,mesmo nunca tendo ido mesmo ao dentista,mas tendo comprado um alicate por pura curiosidade.Sua voz rouca e seu cabelo muito similar ás perucas modernas que se assemelham por demais á cabelos principalmente aos de Sérgio Daniel,o inatropelável.
Era triste por ter vivido o bastante para ficar triste.
Tinha uma boca larga e com dentes que normalmente se cerravam perante uma mentira por demais cabeluda,gostava dos hábitos matutinos mas sempre os perdia por amar os hábitos noturnos,falava rápido feito qualquer pessoa que não tivesse tempo a perder se comunicando e ansiar pelos dias em que não necessitaria se comunicar com ninguém.Confundia sarcófago com mimeógrafo,coisa que só foi notar aos 32 anos quando pela primeira vez precisou se referir a um,ou a outro não me lembro bem,apenas me recordo que foi assim.
-Senhor inatropelável,o meu avô...ou tio disse que vai lhe ceder o seu antigo aparelho que lhe foi caríssimo e quando...
Não me lembrando muito bem desta história,e por saber que ela é entendiante preferi reservar-me e não contá-la aqui pois além do mais,ela não preserva a mínima importância para o andamento desta história que é absolutamente verídica sem o menor aumento em parte alguma dos fatos.
A referida história se inicia como tudo mais nesse mundo,na segunda-feira irônicamente dia primeiro como um começo de história deveria começar mesmo,numa segunda-feira dia primeiro,mais elegante que isso,só mesmo se se passasse em janeiro,mas aí seria pós-reveillon e não teria a banalidade que esta segunda-feira requeriu para si.
Sérgio Daniel poderia até não ir trabalhar,mas aí não seria O intropelável Sérgio Daniel,não o nosso Sérgio Daniel,honrado e que sempre que podia, exercia o seu direito de não pagar os dezporcento do garçom.
Naquela quase noite ainda não tinha sono,apesar de ter realmente dormido tarde na madrugada anterior devido a sua insônia que cismava em martelar sua cabeça,dormira sim,entretanto nem percebera e acordou como se estivesse todo o tempo já daquela forma.
Havia surgido um trabalho perto do Norte Shopping,fazia tempo que não era requerido pelo verdadeiro chefe,parecia esta uma chance de voltar a ativa,não que financeiramente necessitasse,mas e daí...fazia tempo que não explodia a cabeça de ninguém,a última fora Ivette a mulher do Clóvis da repartição de direito da empresa,no início bateu aquele medo- e se ela contar para o Clóvis- o que só reforçou a idéia de que seu trabalho realmente tinha que ser feito,apesar de polpar muito da arte pelo imediatismo requerido na queima de arquivo.
-Oh!Olá Dona Ivette...
-mmmmm...(ela estava amordaçada como convinha nas regras vigentes no covil na época)
-Espero que as crianças estejam bem,sabe eu gosto muito daquele seu filho mais alto...como é mesmo o nome?
-mmmmm...(tira a mordaça)
-Felipe!(coloca de volta)
-Isso!Felipe,o que é fanático pelo flamengo não é mesmo,êta muleque bom!Dona Ivette a senhora teve ótimas crianças,não se preocupe,amanhã eu permitirei que Clóvis falte e lhe mandarei umas flores,a senhora sabe quais são suas flores preferidas?
-mmmm...
-Ok margaridas,anotado!
Levanta calmamente sua espingarda,a mira do aparelho vai vigiando a testa de Ivette,como se precisasse logo rasgar o silêncio,mas O inatropelável era paciente e apreciava muito tentar advinhar o que quem está a beira da morte pensava antes de partir,se perguntava se a vida de Ivette estaria realmente passando toda em sua frente ou sei lá,e se tivesse passando,seria este um episódio realmente interessante?Então começava ele mesmo a imaginar a vida de Ivette passando por sua frente,e como numa sessão de cinema,os dois assistiam o mesmo filme cada qual de sua maneira.Estranhando bastante a demora,apesar de agradecida,Ivette levanta seus olhos na direção do intropelável, que apenas entende que o filme acabou para Ivette,e que quem contaria a todos os presentes o final do filme seria aquele estrondo de Melinda,sua espingarda...e contou bem alto e sonoramente e falando de uma maneira delicada: estragando, o rosto de Dona Ivette e provando que de nada adiantaram as plásticas feitas com o dinheiro do marido Clóvis.
Depois disso nada mais,e olha que isto já fazia alguns mêses,Clóvis já tinha arrumado uma namorada e a grande pena mesmo fora o moleque o tal de felipe que ficou meio pirado...mas fazer o que,ossos do ofício.
Deu a partida e saia da garagem da empresa recebendo "boa noites" de seus empregados,era bom ser chefe de alguma coisa,mesmo que de uma emissora de televisão falida e dominada por evangélicos como os que forçaram a contratação do viúvo Clóvis,e de outros incompetentes filhos de pastores ou contribuintes importantes para o andamento dos negócios divinos.Luz da noite já no rosto,se dirigiu até o Shoppingo Nova América,percorreu toda a região até receber a ligação dizendo que o shopping era o Norte Shopping,o que não o deixou mais feliz...mas apenas eriçou a vontade de trabalhar.
Lindo!E cheio de classe,da maneira exata que apreciava trabalhar,um galpão imenso escuro,com cara de história mesmo,luzes baixas e o melhor de tudo...muitas ferramentas.
Na mesa perto da saída,o sujeito da vez...
Ainda de uniforme,teve o seu turno no Bob's forçadamente finalisado para todo o sempre.
-Sabe...eu sempre preferi Mcdonald's!
Todos davam fortes gargalhadas,enquanto o inatropelável andava na direção do rapaz lentamente e podendo verificar que já estivera um tanto machucado e roxo em algumas partes do corpo.
-Estou vendo,que ele não está nas condições perfeitas!
Sempre odiou que machucassem sua vítima antes dele,afinal de contas era inatropelável entendem...
-O senhor demorou muito senhor inatropelável,se atrasou quase uma hora.
-E quem é você ?Inspetor do colégio?
Todos riam,talvez por puro medo...mas que riram riram.
-é...meu apelido é mesmo Inspetor.
Calmamente o inatropelável levanta sua mão para um aperto amigável.
-O senhor eu já sei que é o inatropelável...acho que nós poderiamos ser bons amigos,apenas começamos mal.
-E terminaremos mal,é só uma questão de tempo.
Fala isso e da as costas para o baixo sujeito de boina listrada e casacão vinho se encaminhando até a geladeira que ele sempre exigia para seus trabalhos,tudo muito lentamente.
O inspetor se chamava Carlos Bonifácio,não era do tipo do cara que se você perguntasse por aí quem era,não saberiam,fora inspetor de colégio,mantinha este apelido desde a infância e quando se abraçava ele,em raras ocasiões,se exclamava sim o nome Inspetor!Não tinha se dado tão bem na vida quanto Sérgio Daniel,talvez por ter se iniciado há apenas alguns mêses tabalhando nisso profissionalemente,antes chegava a matar,mas apenas alunos do São Bento,o que não era nenhum desafio...era mais um novato que infelizmente se adiantara no caminho do inatropelavel.
-Ei inspetor,seu braço esta sangrando.
Afirma trêmula uma voz no escuro.
Inspetor começa a se alarmar,seu braço estava sangrando só de ter apertado a mão do inatropelável,que sempre carrega em seu relógio uma navalha rigorosamente afiada no caso de encontrar algum engraçadinho como o inspetor,enquanto apertava sua mão,ele roçou a navalha contra seu pulso,agora era só uma questão de tempo como havia afirmado.
Chingamentos esbravejados para todos os lados,Ispetor tentou ir na direção de Sérgio,mas como o sujeito era inatropelável apenas soprando-lhe o rosto,derrubaria o oponente já moribundo,o que não foi necessário pois seria uma cena patética também.Lenta e ritmicamente,Ispetor vai se estribuchando no chão,duas contorcidas por milésimo de segundo parecia uma grávida em trabalho de parto,sangrando cada vez mais envermelheçendo o que antes poderia ser chamado de Galpão.
Finalizado o primeiro obstáculo,Sérgio Daniel olhou fundo nos olhos do atendente do Bob's,e podia entender cada múrmuro desperado que ele dava através das lágrimas tortuosamente espelídas que pareciam legendar tudo o que o quase defunto desejava dizer.
Sorriso imenso,sempre sorria daquela maneira a suas vítimas,eram as únicas a testemunhar aquelas mandíbulas esticadas que só elas.Logo em seguida,dava as costas e escorregava até a caixa de ferramentas mais próxima.
Chave de fenda.


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