sexta-feira, junho 30, 2006






Sem título
Para Gabinski




Primeiro dia de viagem

A despedida foi linda. Contive o choro até alcançar o mar aberto. Foi só quando o vento apertou e comecei a sentir os respingos das ondas no meu rosto que pude chorar escondido. Chorar por não ter de quem esconder. A direção do vento é constante. Eu rumo sul.



Segundo dia de viagem

Perdi o Rio de Janeiro no meio da noite. Agora só vejo mar. Passei o dia olhando para trás e vendo a espuma dividir simetricamente o mar em dois. A bússola aponta para mim, enquanto nos movemos para o sul. As velas ainda não pediram grandes trimagens – seguram-se gigantes, investindo contra o céu que escurece devagar.



Terceiro dia de viagem

Entre dois turnos, sonhei que coelhos infestavam o convés. Uma onda veio e levou todos embora. Acordei com o panejar das velas. Sem vento algum, aproveitei para mergulhar na água. A sensação de ser um barco como o meu barco, também à deriva, é reconfortante. Percebi que não trouxe toalhas.



Quarto dia de viagem

Subi no mastro para ver que desenhos estou traçando no mar. Me assustava a idéia de outro dia a vagar fora do curso. Quando o sol estava a pino, corri algumas vezes pelo convés e fiz polichinelos. À tarde o vento voltou a sussurrar e, antes do anoitecer, uivava novamente.



Quinto dia de viagem

A genoa rasgou no punho. O debater do pano na tempestade me fez pensar em deus. Em meio às pancadas surdas do barco afundando nas ondas, comecei a ouvir o grito de uma criança. Era a estrutura do barco que gemia. Desci a genoa e vou somente com a principal, rizada.



Sexto dia de viagem

A chuva diminuiu, mas o vento continua o mesmo. O barco fez 12 nós só na principal durante todo o dia e não havia muito mais o que se fazer. Adormeci no leme e sonhei que um último coelhinho saia de dentro do barco, corria para a popa e pulava na água. Acordei assustado com algo, mas nada continuava acontecendo.



Sétimo dia de viagem

Descansei o dia todo, só levantando para caçar um pouco as velas. O céu começou a abrir e senti minha pele queimar novamente. Olho para o horizonte e a palavra saudade começa a se formar entre as nuvens. Às vezes, sinto que alguma coisa mais forte guia o caminho, algo além de mim.



Oitavo dia de viagem

O gosto do ar mudou. Senti o aroma frio de outras terras, mas me proibi de pensar em âncoras e pingüins de geladeira. O sol brinca com as nuvens, criando sombras no mar e eu tento decifrá-las, dividindo as formas entre âncoras e pingüins. Tentei lembrar de alguns versos do Pessoa, mas sem sucesso.



Nono dia de viagem

Notei cinco novas tonalidades de verde no mar.



Décimo dia de viagem

Acho que percorri 130 milhas na noite passada. Hoje, o sol subiu por trás de uma massa disforme de terra e, sob a proa da embarcação, vi nascer uma cidade. O calor secou as lágrimas no meu rosto. O leme está leve, solto. Já começo a reconhecer o Pão de Açúcar, configuração final de nuvens.


O casaco cor de pedra

” O dia em que nevou em Ipanema, minha avó chorou
No dia em que nevou lá, minha vitrola quebrou
Meu gato morreu, minhas coisas explodiram
Oh neve maldita traz-me devolta a paz de Ipanema...”



Era manhã e isto já era motivo suficiente para que os cariocas se agasalhassem e se arrependessem disto poucas horas depois, assim que o Sol resolvesse reclamar o território que fora tomado por núvens, que como sujeira atrapalhavam, seu brilho de Rei.
Silas, era o nome do rapaz cuja a silhueta cabia dentro da oitava janela debaixo para cima. Silhueta esta que se movia expressiva como filme mudo, e sempre muito fiel aos seus destinos que não eram lá muito respeitáveis, como por exemplo calçar os sapatos nos pés , sapatos estes que dormiam perto da porta como cães.
Silas não tinha cães.
Silas põe seu tronco para fora da janela e observa o mundo como uma mãe vê seu filho dando seus primeiros passos e fica ali naquela mesma posição por tanto tempo, que se fosse mãe, o filho agora já estaria casado e dando-lhe pequenos netos de cabelo enrolado...
Gaivotas, Bem-te-vis, Tico-ticos talvez...uma infinidade de bichos vigiavam os céus.
Ainda não era hora de sair de casa, e gostaria que nunca fosse se fosse para sair de casa por meio diferente do dos pássaros.

Mas era exatamente desta forma que ele o faria, saiu de casa de maneira completamente diferente da dos pássaros, um pé por vez,ombros saculejantes como seus pensamentos, os confortantes ou não.
Na rua como já foi dito, a grande parte das pessoas usavam camisas mais encorpadas, quando não casacos,Silas não, usava uma camisa amarela e apesar de carregar em sua mochila o casaco cor de pedra, não o vestiria a menos que nevasse!!
Assim o dizia, com essas duas exclamações mesmo, ao menos que nevasse!!
( balançando a cabeça)

Obviamente não nevava em ipanema,nem sequer o frio era real, era matinal e nada que é matinal pode ser levado a sério.

Chegou com a típica calma tímida de trigézimo quarto dia de trabalho, á redação do jornal, onde sentados todos os empregados estavam bem empacotados em seus casacos não por pura carioquisse ,mas sim por condicionamento do ar...
Por ser jovem e indigno do respeito típico, teve que dar bom dia até mesmo para as máquinas de café e logo voltar seu olhar quase que vesgo para o chão...

Não havia sobre o que escrever, nunca há, algumas meia dúzia de mortos, trinta e poucos feridos, alguns roubados, outros desmoralizados e vida que segue...
Todos fumavam, e recostavam seus pulmões nos grandes casacos, como que se protegendo de alguma coisa...
Era manhã estranha de ares funestos , principalmente em Ipanema, era um dia inesperado em Ipanema, nada sorria como de costume na típica Ipanema que eu conheço...naquela tarde Ipanema era a Tijuca.

O chefe da redação sempre tinha notícias para que todos escrevessem sobre, além de outras coisas, tinha um mancha na testa...era do tipo de homem que tinha uma mancha na testa!
E um enorme casaco, jogou os papéis na mesa de Silas, e cobrou um casaco ao rapaz...que tímido não exibiu sua opnião sobre agasalhos, e apenas deu um sorriso safardana dizendo que estava bem, o mesmo sorriso que costumava dar quando seu professor de Educação Física, Rubens Renato lhe perguntava se ele tinha se aquecido antes do basquete ...Herbert, seu chefe lembrava-o muito o velho Rubens Renato, Silas o tratava quase que da mesma forma, comprovando a tese de que na vida você conhece pessoas que são realmente parecidas e por isso as acaba tratando igual...
A sorte é que ao invés de polinchinelo,o tal do Herbert cobrava eram matérias mesmo...

Silas pega a primeira matéria com a mesma calma que sempre fez, algum cachorro havia arrancado a mão de uma senhora no Leme, não se importou e continuou passando, na segunda folha estava escrito qualquer coisa, mas ele simplesmente não se importava , enfim notícias das mais variadas era o que havia encima de sua mesa naquela manhã, antes de começar a escrever qualquer coisa Silas vai até a ala dos fumantes, uma pequena varanda a céu aberto.

Ele ia até lá como costume que aderira há alguns dias atrás.
Não sei bem o motivo, mas ás 8 e 42 da manhã, ninguém mais fumava,incluindo Silas , este então nunca fumara na vida, e não seria justamente naquele dia naquele horário tão infumado que começaria...
Por todas as manhãs por volta daquela hora, recostava-se na bancada como bom observador que era, e observava o céu,estava bem azul, apesar da timidez do Sol tanto em presença como em efetiva ação.

Sim, fazia frio,tinha que admitir com a cortante umidade estapeando-lhe a face sonolenta...
Pegou um café na máquina e tentando burlar a quentura da bebida jogou –a língua baixo, torcendo por um gosto bom, mas café ainda era café torça quem torcesse.
Quando pequeno se recusava a engolir tal substância preta na casa de sua avó ,se não acompanhada por um pouco de leite para amenizar o gosto semi amargo e o aroma grudento.
Depois de mais crescido, notara que café era a bebida das pessaos inteligentes e cismou que valia a pena passar por um gosto ruim se fosse para ascender em seu intelecto.
E passou a tentar beber café, chegando até ao cúmulo estranho de pagar por ele.
O gosto nunca mudara, apesar de apreciar o cheiro do café, aquele gosto no fundo nunca o agradou de verdade, e lá estava ele em sua boca, e como estas desgraças nunca vêm sozinhas, ou talvez porque ocafé sabia que não era muito bem vindo naquele organismo, a substância fritou a língua de Silas, e como uma bola de fogo saiu dando ombradas na garganta dele.
Silas tossiu, como se fosse adiantar de alguma coisa, ardia demais, sentia sua língua áspera e insensível, pôs-la para fora na esperança de não sabia bem o que.

Gota!

Algo muito gelado e branco aparentemente pousava na ponta de sua língua,que mesmo insensível, pôde perceber e quase estremecer de frio, frio que desceu por todo o seu corpo de tanto espanto, sua língua quase que se esquecera que estava queimada, quando outro floco pousou sobre sua mão leve como bailarinas francesas, e mais outro e outro e outro...
Nevava em Ipanema!

Virou-se com violência , ha!Ninguém iria acreditar, sentiu o impulso de ir correndo contar a todos, mas era novo no trabalho, não tinha intimidade com absolutamente ninguém, segurou a bancada com as duas mãos trêmulas de excitação, respirou fundo, e agora seu cabelo engraçadamente esbranquiçava geladinho...
Correu devolta para sua mesa, com olhos quase saltando do rosto pensou que alguém em alguma hora teria de ir lá pra fora e contaria a todos lá de dentro a grande novidade.
Passados alguns poucos segundos, o Sujeito da mancha olhou para Silas preocupado e perguntou se ele estava bem, pos estava arfante em sua cadeira.
Silas disse não, seu sorriso safardana era quase que doutrinado para responder o Herbert em qualquer ocasião.

Recostou a cadeira na parede e fechou a mão em forma de concha, apoiando-se na janela e forçando a vista através do vidro preto que censurava o mundo glacial.
Testa franzida, rosto quase que grudado na janela, Silas admirava quase emocionado a neve caindo levemente e compreensiva, transformando em branca toda a Visconde de Pirajá.
Nair, uma mulher que tinha unhas enormes e que como se não bastasse isso, as pintava semanalmente de vermelho 17, havia saído para fumar...há muito tempo que já não era mais 8 e 42 na ala de fumantes ou em qualquer outro lugar de Ipanema.

Era agora que aconteceria, alguém iria lá fora e voltaria trazendo a boa nova a todos...

A mulher põe seus saltos altos barulhentos na varanda e o peito de Silas vibra, Nair era de falar bastante e certamente que ela traria para todos a notícia maravilhosa.

Os flocos de neve caem e esbranquiçam a mulher,que volta parecendo bastante alterada.
Tentou acender o cigarro com bastante afinco...mas não foi o bastante, limpou a neve de seus enormes seios e sento-se em seu lugar, sem nem mencionar uma só palavra.

Aquilo realmente pertubara Silas, não é possível que ela não tenha notado, ao menos uma pequena diferança no bairro de sempre.

Agora era a vez de Herbert, abrira a porta de correr que dava para a ala dos fumantes e as rajadas de vento abriram caminho para que entrassem alguns flocos na redação, e para que o sujeito exclamasse um : “Eita!”

Tentou acender seu charuto, mas não conseguiu e então voltou quase que raivoso, e correu a porta com ódio que fez um determinado barulho ao ponto de desequilibrar algumas formigas, depois limpou de forma bruta os flocos de neve de seu paletó.

Silas não podia se aguentar, todos estavam agindo com uma normalidade inaceitável.
Um longo silêncio se instala no recinto...

O silêncio domina o local, até que Nair pergunta para Herbert:

__Escuta! Quando que você vai me devolver o dvd do Seu Jorge com Ana Carolina?

Os olhos de Silas se encherem de lágrimas.
Algumas horas se passaram , mais e mais pessoas foram fumar e voltaram sem mencionar uma só palavra, sobre o que acontecia...
Fato que a cada segundo a mais pertubava Silas.
A neve era linda, mas ninguém tocava, neste assunto até que o pior aconteceu e antes que Silas ou alguém mais tomasse coragem de avisar ao mundo passando por cima do medo de ser visto como louco, a neve parou...e ninguém falou sobre isso.


“ Bem, que nevou em Ipanema é fato, mas ninguém ficou sabendo, e os que souberam guardaram a informação só para si.”

quarta-feira, junho 28, 2006



SOBRE O QUÊ MEU DEUS!!!

Paulinho sempre fugia quando o aquecimento exigia o Polichinelo... Não... Não é bom. Depois de perceberem que era muito mais confortável do que qualquer outro calçado, griffes mundiais começaram a lançar POLICHINELOS: chinelos que possuiam também outras.... caralho, que merda... Nenhum brinquedo é mais inítil do que o Chinelo da Polly Ai caralho, desisto...

Prometo que pagarei o post de hoje com 500 polichinelos

segunda-feira, junho 26, 2006



Jazia cansado sentindo dores nos músculos da perna. A cabeça rodava e já não podia estabelecer o limite entre o real e o imaginário. Na mão, uma lambida do seu cachorro, afável e convidativo para uma brincadeira.

Tanta coisa aconteceu nessas últimas semanas que, tento agora um tempo livre, deitou-se no sofá entorpecido passando pela sua cabeça mil pensamentos.
Polichinelo.
O exercício que precedia a longa jornada de esforço físico no exército também precedia seu processo de perda de identidade. Mais de cinquenta homens dormindo no mesmo estabelecimento, repetindo todos os dias palavras de honra e morte a qualquer custo, empunhando armas compradas de segunda mão de outros governos com os mesmos cortes de cabelo e os mesmos uniformes.
Polichinelo um dois três.
No exército há pouco tempo para os livros e o tempo passa devagar. Os dias sombrios, gritos, dor.
Seu amigo empunha um rifle a noite no banheiro a espera do supervisor. Decidido a dar fim na sessão de humilhação que vem sendo exposto perante o batalhão.
Encontram-se a meia noite. O amigo iria decidir o destino do grupo. Foram pegos de supresa.
Polichinelo. Um dos três vai morrer.

Jazia cansado sentindo dores nos músculos da perna. A cabeça rodava e já não podia estabelecer o limite entre o real e o imaginário. Na mão, uma lambida do seu cachorro, afável e convidativo para uma brincadeira.

É cada vez mais dificil levantar da cama.


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