sexta-feira, abril 14, 2006




As Flores de Dona Damiana



As estrelas cadentes,todas elas quando morriam, mergulhavam com violência lúdica nos jardins de Dona Damiana
Tornando suas flores realmente, Flores de Dona Damiana.
As mais belas e cintilantes exibidoras do brilho mais especial já visto em toda a história da botânica.

Dona Damiana, senhora gorda e risonha, esposa de Seu Walmir magro e carrancudo, que os anos rangendo o pequeno portão de ferro de sua casa pela manhã, com um saco de pão nas mãos trêmulas, somadas as bolas de futebol que caiam na casa dele e voltavam furadas, e mais os anos e anos de ex- professor de matemática especializado em logarítmo morador da mesma casa em Vigário Geral, adicionaram o Seu a seu nome: Walmir.
O casal tinha idades de fato muito avançadas, e embora nenhum dos dois se lembrasse delas muito bem, alguns chatos diziam que somadas as duas idades daria algo em torno de duzentos anos.
Duzentos anos tinham juntos ,mesmo estando juntos por 43.
A paciência de Dona Damiana era a alma daquele casal que de tão clássico, ao passar nas ruas sentia-se vontade de admirar o clima por eles carregado, alguns juravam até ouvir um sambinha antigo ao fundo, outros realmente paravam suas conversas para admirá-los e os que continuavam conversando já nem eram mais ouvidos e sinceramente só falavam por falar, pois nem os mais insensíveis eram capazes de não prestar atenção em algo tão charmoso.
Seu Walmir nunca quis ser ele mesmo, mas já que era, resolvera apenas sentar e esperar até que acabasse... mas por algum motivo que para todo o universo era desconhecido,Dona Damiana quis acompanha-lo.
Nos primeiros anos juntos, Walmir a enxergava como uma espécie de luz para sua companhia mas nos últimos anos , o único gozo em sua vida era o sono e só conseguia dormir de luz bem apagada., e o excesso de luz em sua esposa só faziam machucar seu bom senso.
Aquela era uma noite comum, os calos de Seu Walmir pareciam mover-se por vontade própria, espichando e contraindo, numa brincadeira que só os calos achavam graça, Seu Walmir não.
Para as flores aquela não era uma noite ignóbil, era novembro, e elas esperavam a chegada das estrelas, Seu Walmir não.
O velho virou-se na cama, da esquerda para a direita como se lá (na direita) fosse encontrar com seu sono, fica uns segundos e faz o caminho inverso, o sono deveria ter mudado de lugar, pois não o achou.
Nesta jornada na cama ,acaba percebendo que já é bem tarde e sua companheira não o acompanha na cama , fato que não seria perturbador se não fosse novembro.
Abre seus olhos tanto quanto o sono permite, só poderia comprovar a desgraça se, se levantasse e fosse até o calendário, e sentia forte o desejo de ir até o calendário na porta da geladeira, porém seu corpo não parecia se importar do mesmo jeito, tanto que não se levantou.
Seu Walmir contorce a face numa expressão de insatisfação contra a desobediência de seu corpo.
Novembro é que não poderia ser, para muitos dos outros aposentados, tanto faria qual dos 12 meses era, mas para Seu Walmir sim.
Sempre em novembro não podia dormir, já que as estrelas cadentes ,todas elas morriam e mergulhavam com uma violência irritante nos jardins de Dona Damiana , já que os astros a achavam uma dama especial , A Dama de luz da Terra, e usavam seu jardim como o leito final de estrelas.
As estrelas boas caiam ainda radiantes por entre as Begônias, escorregando com um frescor prateado em volta dos caules até repousarem para sempre nos braços acolhedores das raízes.
O último brilho das estrelas boas em volta das begônias, alguns pretos diziam que já foi motivo de música, e que os poucos que viram, ficaram apaixonados para sempre, quando não loucos de amor ,Seu Walmir não.
Quanto às estrelas ruins, essas caiam feito pedrinhas vazias e apagadas, e ao tocar no chão do jardim eram arrastadas por ervas-daninhas para debaixo da terra com a eficácia de quem quer escondê-las.
- Damiana!
Seu Walmir investiu no vácuo, mas não obteve resposta ou sinal parecido.
Já estava quase na hora, a mulher com certeza havia de estar se balançando na varanda esperando a visita das estrelas, que carregariam sua insônia... mais uma noite de insônia não poderia agüentar, luzes e mais luzes uma pirotecnia dos diabos ...
Um segundo, e todas as lembranças de Seu Walmir sobre defuntos astrais sendo despejados na sua casa por todos esses anos, começaram a aflorar no peito, e ponteagudamente furar sua alma.
-Damiana!!
Desta vez com o ódio de quem senta numa cama e berra com seus pulmões antigos fumegantes como novos, renovados pelo ódio, ódio guardado com amor por duzentos anos.
-Damiana!!!
-A mulher simplesmente não vem-
TINHA QUE FAZER ALGUMA COISA!
TINHA QUE PARAR ESSA HISTÓRIA!

Um barulho que onomatopéia alguma seria capaz de traduzir se irrompe quando Seu Walmir se levanta da cama, sua mente já não existe, e em seu último raciocínio lógico só fora capaz de fazer um cálculo que era simples/óbvio : “Se as estrelas vêm parar aqui por causa de Damiana, acabando com Damiana eu acabo com as estrelas”.
Quem não sabia o que é loucura obsessiva, logo tiraria qualquer dúvida ao encarar os olhos roxos e incontrolados de Seu Walmir.
Ele sai do quarto, era noite fria, a porta da sala ilustrava a imagem que Seu Walmir já decorara; a silhueta de Damiana sentada na grande cadeira de balanço de frente para o jardim. Caminha através da sala ampla com pisos de madeira que...rangem.
Alcança a porta, encima da cômoda, repousava uma boneca de porcelana com um laço verde-oliva na cabeça, o louco desamarra-o e a boneca nem suspeita do objetivo da ação.
Cada passo obstinado do idoso fazia a antiga estrutura da casa compartilhar do Parkinson que tinha na mão esquerda, que segurava a tal fita verde-oliva.
Walmir pára atrás de sua esposa (e esta nem se arrepia) com a coluna ereta de quem se esqueceu de todo o peso dos últimos duzentos anos, suas mãos tremiam, mas a obstinação e desejo eram maiores do que tudo naquele segundo de vermelhidão
Em contra partida... Dona Damiana era tão linda como na primeira manhã de Sol rascante em que se viram e se falaram, uma lágrima cai, e a primeira estrela também, e enquanto o preto do céu era ferozmente rasgado com a força de trinta cachoeiras, em uma só gota-linha, Seu Walmir faz um movimento rápido e veste a fita verde em torno do pescoço da esposa ,a boneca de porcelana cai e se quebra em cacos.
Seu Walmir aperta-lhe a goela com a voracidade de quem morde um bife suculento, os olhos da senhora, que fitavam o céu e brilhavam de encanto e felicidade, pois era uma estrela boa, iam se virando para algum lugar mais alto que o céu, iam para a casa da angústia, contração e desespero.
As estrelas não paravam de cair, algumas boas, outras ruins, todas morrendo no jardim, todas irritando Seu Walmir.
Seu ódio lhe dava razão e tesão por sua arte de enforcar, e debaixo da chuva de estrelas , ele se sentia aflito mas certo do que estava fazendo e tanta certeza e precisão, o faziam babar com loucura sólida, todo o corpo tenso de força chegava a dar tremeliques de loucura líquida.
Algumas estrelas se sacrificavam para salvar Damiana, mas quanto mais estrelas caiam, mais veias se estouravam.
Depois de algum tempo, as estrelas pararam de cair, e passados dois minutos de respiração ofegante em loucura gasosa,Seu Walmir apenas largou a fita , fazendo com que o corpo celeste morto de sua esposa caísse brilhante encima das Begônias...Seu Walmir depois de algumas horas ,finalmente conseguiu dormir bem e no escuro, fora carregado para debaixo da terra por ervas daninhas...era uma estrela ruim.

FIM.

quinta-feira, abril 13, 2006



COISAS QUE ME IRRITAM NA INTERNET

1. Xenti que fala axim. Xinto vontade de xair distribuindo caxete.
2. Gente que prolonga as vogais no fim da fraseeeeeeee. Não conheço ninguém que fale assim no dia-a-dia, você conheceeeeee? Demorou entãwwwwww
3. Mania de linkar as palavras. Alguns textos
na internet
têm mais da metade das palavras linkadas com algum outro endereço, o que torna impossível ler o texto sem remeter a outro texto que remeterá a outro e
assim não se sairá nunca mais da internet, quando tudo que se queria era uma simples receita de bolo ou, finalmente, entender que raios é um logaritmo.
4. #***T@nt@$ Let(r)A$ D1ƒeReNt∑$ QuE m@£ sE CøN$eGuE £eR ø QuE e$tá eS?(r)It?
5. Gente que implora para que os outros comentem os seus posts. Os comentários são implorados de tal maneira que quem resolver vender comentários fará fortuna. Os pedidos são sofridos : ? Por favooooooor, comenteeeeeem ? , como se cada comentário feito se revertesse em dinheiro na conta do blogueiro.
6. LeTrAs OrA GrAnDeS OrA pEqUeNaS
7. Frases que não faz o menor sentido não tem sujeito os verbos nem pontuação nem os verbos concorda.
8. A presença de letraxxx ki não fazem parte do nosso alfabetowww


Valew galeritcha pela presen硡aaa !!! E não esqueçam comenteeeeeeeem !!!!!

quarta-feira, abril 12, 2006



SOBRE LOGARITMOS

"A invenção do logaritmo (palavra de origem grega:(logos) = tratado, arithmos (ariqmo) = número), deve-se ao matemático escocês John Napier, barão de Merchiston (1550-1617), que se interessou fundamentalmente pelo cálculo numérico e pela trigonometría. Em 1614, e ao fim de 20 anos de trabalho, publicou a obra Logarithmorum canonis descriptio, onde explica como se utilizam os logaritmos, mas não relata o processo como chegou a eles

Um ano depois, em 1615, o matemático inglês Henry Briggs (1561-1631), visitou Napier e sugeriu-lhe a utilização da base 10. A Napier agradou-lhe a ideia e resolveram elaborar as respectivas tábuas dos logaritmos decimais. Com a morte de Napier é Brigs que conclui o trabalho e em 1618, publica Logarithmorum Chiliaes prima, primeiro tratado sobre os logaritmos de base 10 e faz o calculo para os números de 1 a 20 000 e de 90 000 a 100 000."

Comer alguém que é bom, nem pensar!

terça-feira, abril 11, 2006






#1

O ônibus parou e Vicente embarcou. Cumprimentou o motorista e o cobrador, desde pequeno simpatizava com os profissionais do transporte público, tirou do bolso um punhado de moedas de cinco entregando ao cobrador, que satisfeito com a gentileza do rapaz contou os níqueis e sorriu agradecido: "É minha primeira viagem."
Era um mulato sorridente, seus dentes eram preciosas pedrinhas brancas separadas por fendinhas, devia escová-los todos os dias terrívelmente. O uniforme azul, bem passado e limpo, deixava escapar metade da palavra "Jesus" na camisa branca que vestia por debaixo.
Vicente sorriu de volta e sentou-se no primeiro banco da fileira, à sua frente o perfil daquele bom mulato, esmirrado, de sorriso débil e dentes de alvura invejável. O ônibus estava vazio, no banco ao lado sacolas de supermercado espremiam uma moça magra de olhos grandes no canto.Além da moça havia um casal enamorado sentado no fundo e um senhor gordo de longos cabelos brancos amarrados e barba volumosa sentado na parte da frente em um dos assentos discriminados para maiores de sessenta e cinco. Estava de costas para Vicente que mirava a nuca do senhor numa tentativa de fazê-lo virar, queria de frente a face do homem que achava ser Hermeto Paschoal. O ônibus ia lento, àquela hora da manhã não era normal o trânsito se tornar caótico. Relevou, ao menos teria tempo bastante para acertar no velho um raio suficientemente forte para fazer aquele corpo pesado se virar.A procissão de automóveis parava a cada cinquenta metros, numa dessas inúmeras paradas havia subido um único passageiro, um moreno de estatura média.



#2

A moça gritou, o cobrador gritou, o velho gritou e o motorista freou. Vicente chorou. Chorou pelo corpo e pelo revólver, pelo cheiro de pólvora, pelo susto. Pelo uniforme do mulato, manchado de sangue.
E ao ver o rosto do velho, que se revelava enfim branco como o de Hermeto, não assimilou a realidade e achou possível que ao som de um acordeon tocando Bebê a grua fosse subindo lentamente e o ônibus ficando cada vez menor, desaparecendo então como aquilo tudo.

( Enquanto bebia uma tigela de amendoins sabor shoyu deu uma rápida pensada na existência humana e concluiu que a casquinha era salgada demais )





#3

“-Indecente!”
Ouviu enquanto punha o pau na boca da menina.
Com o feixe éclair da bermuda compartilhou:
“ - Lascívia, estou quase nú. Sim, eu sou indigno.”





E gozou.




#4

Acordou com o pijama grudento na região da púbis.
Lavou o rosto , escovou os dentes, foi pro trabalho, voltou do trabalho, lavou o rosto, escovou os dentes.
Acordou com o pijama molhado na região da púbis.
Lavou o rosto , escovou os dentes, foi pro trabalho, voltou do trabalho, lavou o rosto, escovou os dentes.
Acordou com o pijama melecado na região da púbis...






#5

Sentia-se como um brigadeiro em mesa de festa.
Quando se viu entre seus próprios dentes tentou gritar.
Tratou de descer doce e macio como uma oferta de emprego.

( Pausa pro refresco )

Teriam que cruzar toda a Copacabana a pé velando a vontade de descobrirem os orifícios um do outro e se penetrarem com os dedos.

Adolescentes que apressam o passo com fones no ouvido quebrando esquinas na quarta-feira descobrem o sexo na madrugada.

Rapazes que pintam de azul o cabelo de corte moicano penetram os dedos num quarto de hotel por menos de trinta a hora.

De sexo, a noite toda furada de argolas vai ouvir rock’n’roll no iPod e descobrir crianças penetrando apressados a madrugada a pé.







#6

Outro dia dormiu bêbado e acordou noite.




# 7

Outra noite dormiu sóbrio e acordou cercado por números e letras.
Estava quociente do que se passava.
Tornara-se radical determinante.
Numa equação do primeiro grau.



# 8

Um logaritmo de base 10 invadiu sua casa e o fez de refém.

Ele conta que desde então tem somado e subtraído
Algarismos e caractéres
Tem dividido sílabas
E multiplicado fonemas
Diz não aguentar mais
Quer podar o mal pela raiz

Diz estar disposto a se internar numa clínica de inequação.

segunda-feira, abril 10, 2006



"Quando eu era pequeno queria ter os braços do Arnold Schwarzenegger. Queria ser o Jaspion para salvar o mundo dos monstros gigantes. Adorava os guardas: sempre que via um na rua gritava: “Oi, amigo policial!” Uma vez minha mãe fez um bloquinho e eu saí multando todos os carros do condomínio de sete blocos em que eu morava, no Rocha. Também fez um chequinho uma vez, e o processo foi o mesmo: saí distribuindo cheques pelas mercearias e estabelecimentos, mesmo sem levar nada. Depois quis ser jogador de futebol, passava horas do dia pensando nos rios de dinheiro e nas mulheres que o menino orelhudo iria ter a seus pés. Achava que logarítmo era uma nova dança proveniente da lambada. Eu tinha o meu próprio quarto, minhas coisas, e queria um carrinho de fórmula um. Uma vez vi na TV um “papa-ficha” e pedi: mãe, eu quero um! E não é que de noite ela me trouxe um! Foi a única vez que me fez uma surpresa dessa... Naquela época, brigar com a ela era bem mais simples: me trancava no meu quarto, e de noite, deixava um desenho embaixo da porta dela com duas mãos “cortando de mau”. Quando fazíamos as pazes, desenhava mãos “cortando de bem” . Tenho esses desenhos até hoje. Passava horas desenhando o mar, montanhas e o Batman e Robin. Escrevia cartas de amor com minha péssima caligrafia infantil. Queria ter um irmão. Eu não lembro, mas minha mãe relata que eu dizia estar vendo meu irmão e que até brincava “com ele”, eu tinha dois anos. Minha mãe perdeu um filho antes de mim, e eu nem sabia...Também pensava em me matar. Olhava a janela da sétimo andar e pensava: “vou pular!” Tinha muitos sonhos em que eu acordava quando estava prestes a me espatifar no chão. Pensava em cortar os pulsos também, e já cheguei a pegar uma faca e posiciona-la para tal. Quando eu era pequeno, perguntava pra minha mãe o que eu estava fazendo dentro daquele corpo, não entendia como eu tinha ido parar ali.

Depois a gente cresce."

Raoni Seixas - março de 2005


Logarítmo.


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