sexta-feira, junho 23, 2006






PEDRAS SONHANDO COM BRITADEIRAS
(CADA SER TEM SONHOS A SUA MANEIRA)
-fragmento de um roteiro de 150 paginas–





Sinopse: Com a morte de sua mãe, Marcela e sua filha voltam para sua cidade natal no interior de São Paulo. Passado o funeral e o período de luto, os moradores da cidade começam a entender melhor as motivações de sua volta ao observar um movimento noturno na casa de Marcela. Entre os habitantes da cidade que a visitam estão Rafael e Miranda, que batem na sua porta a noite para comprar cocaína.
No final, Simone é estuprada por um dos assíduos visitantes de sua mãe e Marcela mata o homem , fugindo em seguida pra São Paulo. Simone fica no interior e acaba casando com Rafael.





EXT. CLAREIRA – NOITE

Rafael e Miranda aparecem do meio do mato e sentam num tronco de árvore bem na beira do morro, tendo à sua frente a vista da cidade.

RAFAEL
Pronto...agora sim você pode rir como uma louca.

MIRANDA
Ai...eu não rio como uma louca...

Rafael imita a sua risada comicamente, chegando perto de seu ouvido. Miranda vira o rosto e beija Rafael – que, ainda fazendo cara de palhaço, se assusta. Os dois se beijam violentamente e começam a se despir. Rafael levanta para desafivelar o cinto.

MIRANDA
Você tem camisinha?

Silêncio.

RAFAEL
Peraí...

Miranda ajeita o sutiã e o cabelo, enquanto Rafael procura na carteira.

RAFAEL
Po...não...não tenho...você têm?

MIRANDA
Não.

RAFAEL
Ahn.

Os dois sentam lado a lado novamente. Rafael esta só de calça e Miranda não parece sentir frio por estar de sutiã e shorts. Alguns mosquitos incomodam Rafael. Os dois ficam em silêncio por um longo minuto.

MIRANDA
Céu bonito...

RAFAEL
É...

MIRANDA
Daqui a pouco vai clarear...qual é aquela estrela que é um planeta e que da pra ver de manh...

RAFAEL
Mercúrio.

MIRANDA
Você é tão inteligente, Rafael...Não sei porque não vai pra sampa ou algo assim...é um desperdício você ficar aqui né...

Um mosquito entra no ouvido de Rafael – ele faz um leve escândalo para tirar. Miranda ri baixinho. Recomposto, Rafael se aproxima de Miranda.

RAFAEL
Você já veio aqui?

MIRANDA
Não nunca...

RAFAEL
Eu venho sempre, acho o melhor lugar pra ver a cidade e fumar um baseado. Acho bom fugir de vez em quando.

MIRANDA
Vem cá, você acha que o Carlos vai mesmo chamar a policia?

RAFAEL
Acho que não...tá todo mundo se divertindo lá embaixo.

MIRANDA
Parece que a gente tá tão longe...

RAFAEL
Tá nada, as casinhas que são pequenas...

MIRANDA
Você acha que tá todo mundo dormindo?

RAFAEL
Não faço idéia...mas tem sempre um pessoal acordado né, dando uma volta pelo morro, cê sabe...

MIRANDA
Sei...

Rafael afasta os mosquitos.

MIRANDA
É engraçado que a gente vá lá visitar ela quase todo dia, todo mundo vê a gente, mas ninguém comenta. Parece que a gente é fantasma.

Rafael fica olhando para as luzes da cidade.

RAFAEL
Eu acho que a gente só existe como parte do sonho dessas pessoas. Nada mais.

Rafael continua olhando pra frente. Miranda tira o sutiã, abraça Rafael e beija o seu pescoço.

RAFAEL
Mas a gente não tem camisinha...

MIRANDA
Eu não me importo.





Reginaldo o sujeito que não era

“ Se não tivesse o amor, se não tivesse esta dor,
e se não tivesse o sofrer, e se não tivesse o chorar,
melhor era tudo se acabar”
( Vinícius de Moraes )

Enquanto o rapaz fazia a barba,se perguntava se ainda podia ser feliz novamente, como prometiam-lhe seus amigos como se pudessem garantir qualquer coisa deste tipo.
Vestiu a camisa,achou que ficou boa na medida do possível, e por mais que tenha vivido anos naquele corpo não se acostumava com suas particularidades ,o rapaz do espelho o examinava como se ele tivesse que passar por sua aprovação para poder sair, foi aprovado não com louvor, mas uma nota sufuciente para tirá-lo de casa.
Saiu de casa e como sempre achou ter esquecido alguma coisa, verificou seus bolsos e as mesmas coisas de sempre jaziam lá como se já soubessem o que iria acontecer, fechou a porta de casa e pensou que se tivesse esquecido alguma coisa o azar seria dessa coisa que perderia esse passeio.
Fechou a porta do apartamento,mas não trancou-a, sabendo que sua abertura é impossível se não pela chave que só ele tinha.
Lembrou -se de uma vez em que havia ficado preso fora de casa sem a chave e enrolado na toalha quando foi jogar o lixo fora no lixeiro no corredor, e teve que pedir ao porteiro para abrir a porta com chave de fenda e viu que não foi fácil,mas funcionou, então resolve voltar o caminho que já havia feito até o elevador e tranca a porta, nunca foi de confiar em porteiro.
Vai até o elevador e aperta o botão, na consulta ao relógio descobre que chegará 15 minutos atrasado,decide simplesmente não ir.
Volta pra casa , ainda dividido em tentar achar um lugar legal pra se divertir com ele mesmo,perguntando a sua cabeça com pouca gana por resposta,seu sofá parecia com um enorme trono.
Tira seus sapatos e vai reinar,com a liberdade de quem não tem mais nenhum compromisso liga o rádio,sua barba recém feita coça, adquiri o prazer de uma dança com sua vassoura que a condus como se ele estivesse voando,sobrevoando os sete mares dentro de seu quarto, sente o máximo de felicidade que um parceiro de dança pode lhe proporcionar e viaja nos delicados compassos, aumenta o som era "The Work Song" do Charles Mingus, aquele era seu momento de se deslumbrar com a luz da lua, se ele fumasse teria acendido um cigarro agora mesmo,olhou pra lua como se fosse a única coisa que pudesse ver e a primeira em anos, carros passam debaixo de sua janela, já não quer mais saber faz tempo, ao voltar o olhar pro quarto todos já estão na mesma onda ,suas cadeiras de praia rodavam,suas fitas de vídeo e discos de vinil rodopiavam pelo céu de seu quarto,seus lápis eram como dançarinos experientes,vários porta-retrato pulavam de um canto a outro do quarto,seu sapato pisava no ritmo da música, seus óculos pareciam sapatear,seus cds também rodopiavam, e seu telefone tocava,não era bonito o som , mas tocava, demorou um pouco pra entender que alguém estava mesmo ligando pra ele.
Correu pra atender,mas já era tarde, agora tinha mais um recado na secretária eletrônica da qual era nova e não sabia mexer muito bem,enjoou de olhar pra lua que naquela noite , estava traindo a Terra e dando mole para Mercúrio, quis apenas relaxar na cama,mas era cedo pra dormir,dormiu mesmo assim.
Abre um furo bem no meio da madrugada,quatro da manhã o rádio ainda ligado,agora" Gostava tanto de você" do Tim Maia dava o clima fim de festa para o quarto, jurava por Deus que seu sapato esquerdo tinha cara de quem bebeu em demasia, seus lápis caidos nos cantos também não passavam impressão muito diferente, ouve tiros, mas é Rio de Janeiro,preocupante seria não ouvir.
Vai ver a secretária eletrônica com a animação digna de quem acorda por essas horas.
-Reginaldo, me liga!
Até ligaria,se não fosse tão tarde ou ao menos soubesse quem era.
Ao ouvir seu nome vindo de uma outra pessoa estranha,tinha esquecido que se chamava dessa maneira,aliás havia esquecido de muitas coisas como o motivo real de estar tão triste recentemente,gostaria de ser uma dessas pessoas que comemora os momentos como se fossem os últimos de sua vida,em vez disso,Reginaldo inconscientemente preferia sofrer os momentos de sua vida como se fossem os momentos depois da comemoração onde é preciso varrer tudo.
Não dava,simplesmente não dava, e se dava conta disso a cada segundo, e de repente nada mais tinha graça.
Lembrou de toda a dança dos objetos na noite a pouco e não se espantou,bebeu um copo de qualquer coisa e foi dormir.
Não sonhou , e também não se encomodou com esse fato.
Ao levantar, foi comer alguma coisa, enquanto misturava o chocolate com o leite se olhava no espelho que jazia lá perto, já não era mais feio , estranho,ou desarrumado,não era nada.
Um nada com a barba recém feita pra ser mais específico, levou o copo até a boca e surpreendentemente não sentiu o gosto,era como se estiveese ingulindo uma rajada de vento, bebe o outro gole, um maior, o copo inteiro e se repete a não- senssação, no desespero que já estava tomando conta dele desde o momento em que resolve entornar o copo inteiro na boca, o rapaz acaba derrubando muito leite no chão.
Sai correndo da cozinha,escorrega e não sente aquele frio na barriga antes de cair,simplesmente se vê no chão estirado,sentindo dor,talvez não a do tombo.
Apoia as mãos no chão pra se levantar, não se sabe se o chão é frio ou quente, coisa que nunca havia lhe importado antes,agora era de estrema importânçia pois já não sabia mais dizer o que é que era.
Ao conseguir se levantar olhou pro espelho,fez caretas pra ver se se achava feio,mas não, nem feio ele era mais, ele não era nada.Começa então uma busca torturante na frente do espelho por si mesmo,não conseguia mais sentir quase que coisa alguma que não desespero e dor muita dor,de meio tonto caiu no chão, quis olhar pro relógio,mas no pulso ele não estava foi quando viu uma luzinha no rádio, que dizia :meio dia, o rádio continuava ligado mas Reginaldo nada ouvia.
Tomou banho e não sabe se era quente ou frio.
Vestiu a primeira roupa que estava na frente que aliás era a mesma que escolheu cuidadosamente ontem,fechou a porta a penas, não trancou pois não sentia medo só desespero, só sabia que tinha que sair de casa, correndo e ir para...pra frente seguir para frente , apertou o botão que ia pro térreo, e foi descendo,não estava impaciente,mas sentia que gostaria de arrancar a própria pele,e a vontade crescia na mesma escala que o elevador descia.
As portas se abriram e ...tudo era púrpura,não haviam cadeiras,nem quadros nem mesas nem nada,só paredes numa imensidão púrpura,seus olhos se esbugalharam e reginaldo caiu de joelhos na porta do elevador e o sentimento de dor,se combinou com o desespero ,mais a ambientação do local e finalmente resultou em um sentimento só, o vazio ,vácuo estremo,não se ouvia um pássaro cantar, era tudo vazio e oco, tudo poderia ecoar naquele local.Uma urna jazia na sua frente com os dizeres,"deixe-o aqui", Reginaldo em seu último ato de amor ou compaixão sem sentido resolve abraça-la num abraço cheio de tristeza ,o mundo para por estes 4 segundos! Suas pernas tremem, e de repente um grito tão silencioso que nem um cachorro ouviria,era de cortar o coração de tão rascante e escarlate,porém o mais dolorido de tudo e que nenhum olhar que não fosse o de Reginaldo podia ver é que na urna agora , o coração de Reginaldo,tentava voltar a sentir ,como um peixe se debatendo,solto e solitário.
O sujeito ao ver aquilo ,não se assustou ,não ficou triste, nem qualquer outra coisa,seus ohos eram apenas negros sem brilho algum,perdera o direito ou até mesmo motivo pra sorrir,não tinha medo de estar onde estava,pois já não tinha mais medo de nada, não era medroso,não era mais bobo, não era mais trapaceiro, não era mais solitário,apartir daquele dia Reginaldo apenas...não era
Reginaldo sempre achou melhor ser triste do que ser feliz,no fundo seu maior desejo era realmente não ser.
A vida tentou mostrar pra ele uns últimos prazeres,até quebrou o protocolo normal permitindo que o seu quarto dançasse com ele,mas nem isso foi o suficiente,parecia que esse sujeito realmente era pra não ser.
Pois se quando ele era,era triste, eu espero que hoje ele esteja por aí não sendo, mas feliz.

quinta-feira, junho 22, 2006




Foi mal o descaso, essa semana tá foda... Mas eis um post com atraso...

SOBRE TRIBOS E MULHERES

Acordei cansado naquela tarde ... Precisava encontrar uma mulher que não me desse problemas como as 5 que tive na última semana. Acendi um cigarro e traguei sentado na cama, ainda pensando em qual seria a melhor opção pra minha nova jornada... Pra fugir da normalidade, não atendi o telefone que tocava sem parar, com certeza com vozes femininas e cobranças mal-vindas. Findei o cigarro e tomei num gole só a água que havia dormido na cabeceira. Levantei.......... O tempo que levei até chegar ao banheiro do outro lado da casa fez com que eu me perguntasse pela milésima vez por quê eu havia escolhido aquele apartamento.

Ao sair da ducha reparei no relógio de parede que já eram quase dez da noite. Ok, sempre acordo tarde, mas dez era absurdo... Tentei lembrar o que havia feito na noite anterior e parei numa virada de tequila que eu tinha dado aproximadamente quinze pra meia noite... Engraçado lembrar da hora e não do que eu fiz depois, ignorei o assunto... Pensei o que me faria fugir dali pra outro universo, precisava renovar... Novos ambientes... Novas alegrias e uma nova mulher... Eu sempre fui louco por elas.

Fui no armário e sem nem olhar pras roupas habituais localizadas próximas ao meu alcance, fui na gaveta de roupas que eu ganho mas não uso, aqueles presentes de família tentando acertar, que você gosta do que está na moda. Botei uma calça xadrez e uma camisa social com uns detalhezinhos esquisitos... Encarei o espelho e me senti um ridículo... Mas, não encontraria ninguém conhecido onde eu ia... pásmen, um sambinha.

O ambiente era até animado, vários casais dançavam ao som de um grupo que já estava nas últimas sentado numa mesa grande bem no meio do lugar, o centro da cidade era novo pra mim, mas não podia demonstrar isso, lembrei de umas 5 aulas de teatro que tive antes de entrar pra fazer direito e fingi que era outra pessoa... Óbviamente não tentei dançar senão seria descoberto, mas pra não ficar de fora ficava perto da roda e acompanhava as últimas palavras ou expressões mais óbvias como "O meu amor" ou "Você me deixou"... Procurei uma mulata espetacular como as que eu ouvia falar que apareciam em lugares como esse, algumas interessantes porém acompanhadas, não mexo com mulher dos outros então ignorei. Por um tempo fiquei meio desacreditado, desacreditado e mal vestido, o que me deixou puto... Fui à Janela tomar um ar e aí sim encontrei o que eu queria... Ao som de "Vai vadiar", única música que reconheci naquela noite, fiquei observando uma branquinha linda... baixinha e de cabelos bem pretos e curtos, seios fartos e tatuagens, tatuagens espalhadas pelo corpo todo, imaginei muita coisa, ainda mais quando vi os vários piercings que ela ostentava em seu rosto bonito apesar do clima pesado que seu estilo exigia, com coturnos de acender o fetiche de qualquer homem entregue as mulheres como eu, atravessou a rua e entrou umas 4 casas ao lado de onde eu estava. Tentei correr mas foi inútil... ao chegar perto e vê-la ainda na fila, desisti ao descobrir que se tratava de uma boate punk e com aqueles trajes eu seria ridicularizado. Esperei meia hora pelo único ônibus que me levaria pra casa... Fui dormir sozinho e puto, mas amanhã eu voltaria lá, e a branquela seria minha "com certeza"...

Noite seguinte, lá estava eu... Palhaço... Vestia uma calça rasgada que fazia frio no meu joelho, uma camisa sem mangas e correntes pra caralho... Nunca tinha visto tanta corrente junta, chegava até a pesar um pouco. Não, aquilo não era da minha gaveta, eu acabei abrindo meu segredo e pedi ajuda pra um amigo meu de infância que tinha pendido pra essas coisas punk... O cara não entendeu nada quando eu expliquei por telefone que era uma festa à fantasia com esse tema... pedi uns assuntos pra entrar no clima e ele acabou cedendo, em nome da nossa velha amizade... Porra nenhuma, quase saí correndo quando vi que ele tava de batom preto... Isso eu não botei não... Aí já é demais... Fiz questão de averiguar por meio de algumas perguntas soltas (Coisa de advogado) se ele estaria no tal lugar aquela noite, mas não.. tinha uma festinha de amigos... O campo era livre, mas era incômodo. A música era gritada, não me agradou não, e ao contrário do samba de ontem, essa chegava a incomodar. Foda-se, procurei a baixinha que com certeza iria esmerilhar aquela noite e pelo jeito que tava aquele lugar, até ali dentro rolava... Tinha umas mulheres muito bêbadas gritando uma porrada de coisas... O ambiente era um quase breu total que impediria a minha busca... Rodei incontávelmente aquele inferninho e fui interpelado por algumas mulheres, cheguei até a encarar algumas... Não dava. Ou eram gordas, ou tinham umas olheiras falsas, pareciam aquele cachorro do Johnny Quest que eu não me lembro o nome... Eu ri na cara de uma delas e ela riu de volta, fiquei com medo e deixei de lado minha procura, sentei e acendi um cigarro pra espairecer... Achei a Vaca! estava na minha frente... Ficando não só com um, mas dois malucos bem na minha frente, pensei em entrar e até me levantei, mas reparei que os dois também se beijavam... Aí não... Não vou me submeter a isso pra pegar uma punkzinha qualquer... Foda-se, vou pra casa dormir. O ônibus era irritantemente demorado e foi passar bem depois d´eu já ter visto a menina sair com os dois bichas e se enfiar num dos becos próximos ao casarão. Já perto de casa, um carro em alta velocidade freiou bem perto de mim, cerrei os olhos, só abri quando uma voz rouca de mulher me peguntou como se saía do bairro, olhei pra dentro do carro e quase agradeci a Deus alí mesmo por ter colocado na minha frente aquela loira gostosa... Ela tava de mini-saia e tinha uma pernas malhadas maravilhosas, a camisa curtinha e apertada me revelou um decote tentador... reparei que a camisa era de um festival de música bahiana que estava rolando perto aqui de casa, mas eu não tava nem aqui pra aquilo... Ela tinha cara de não só de quem gosta muito de fazer sexo, como de quem sabe. Por pouco não ensinuei alguma coisa, reparei a tempo que aqueles olhinhos azuis me olhavam com um certo desprezo... Por que? Ah... Lógico... Aquela roupa ridícula que eu estava usando... Me livrei rápido da cachorrona antes que ela marcasse minha cara. Amanhã eu estaria nesse Axézinho "com certeza"...

Malhei... Hehe, fazia tempo que não malhava, uns 7 meses, eu acho. Gastei uma grana preta pra arrumar aquela blusinha multicolorida que me daria acesso àquele centro de adestração humana, sim, porque nunca vi uma platéia tão obediente na minha vida, onde o cara com um shortinho escroto e uma bandana na cabeça mandasse o pessoal botar a mão eles botavam... Putz... Ridículo. Eu fingia que gostava daquilo tudo e fui observando o lugar... Reparei que a loira cachorra da noite anterior não tinha nada especial, eu estava cercado por umas 2.000 delas... Desinteressante demais pra quem se deu ao esforço... Mulheres com o mesmo corte de cabelo, mesmo corte de roupa, mesmas unhas, mesma cara, o mesmo bombado entrou na minha frente e beijou 5 delas... Eu desconfiava que fosse algo esquisito, mas não tanto... Me senti, mesmo com um short florido (Esse era meu) e com a camisa regata do show, um completo estranho. Quando o carinha de short escroto deu alguma ordem relacionada à beijo o ambiente se perdeu... estava aberto um mercado marroquino de venda e troca de salivas. Senti cheiro de lança-perfume, me dava alergia, fui me esgueirando pelo meio daquele monte de mesmas pessoas... Saí espirrando... Não era nem meia noite. O celular tocou, era uma menina nerdzinha da minha sala, como não tinha pego atendi... Não podia ser coisa ruim. Não era, eu tinha pego um livro emprestado com ela e ela precisava pegá-lo urgente. Essa menina era minha vizinha de prédio, disse que me esperaria na portaria, já que eu estava voltando pra casa. É, eu estava voltando pra casa... Cheguei no prédio em menos de 10 minutos e lá estava ela.. Nunca tinha visto ela "desarrumada". Era muito melhor, mas não me arrisquei em falar, os cabelos soltos davam um tom bem maior de mulher pois o rostinho de criança e seu óculos pareciam ser puxados junto com o cabelo quando ela usava rabo-de-cavalo, ou seja, todos os dias, ela também não estava com uma roupa super coberta como sempre... apenas um blusão de dormir que em permitiu ver aprtes do seu sutiã (Como eu amo isso...) e uma calça de dormir que revelou curvas que eu nunca tinha visto... Me interessei... Ela , eu, minha casa, livro dela e a minha blusa que ela deu uma risadinha de canto de boca quando viu, achou que eu não raparei, mas reparei, deixei passar, eu também ri quando li "MICAREFOLIA" ao comprá-la... Nome escroto. No elevador ela quebrou o silêncio primeiro, perguntou se eu gostava de axé, eu disse que não e ela riu novamente, lógico que não acreditou... Agora além de micareteiro eu era cara de pau... "Igualzinho aqueles outros da nossa sala..." Ela não falou isso, mas pensou... Eu vi. Convidei-a para entrar, não quis, insisti, não quis, ela aqueria aporra do livro, também enchi o saco e joguei do meio da sala pra ela na porta que teve uma certa dificuldade de pegá-lo, achei engraçado e ri... Ela se emputesseu e foi embora. Putz... Eu tava virando um Monstro! Tirei aquele outfit antes que fizesse outra merda e fechei a porta.Eu precisava fazer alguma coisa, ela não atendeu minhas ligações... Eu precisava pedir desculpas, mostrar que eu não tinha nada a ver com aquilo e talvez até pegá-la quem sabe... Ela poderia ter se decepcionado, eu não... Iria usar o meu charme e a CDzinha seria minha "com certeza"

Não foi. Não só ela, a grunge, a clubber, a surfistinha, a zen, a religiosa e a filha gatinha da faxineira que veio substituí-la essa semana, também não foram. Eu não tive sucesso nenhum, em nenhum desses dias, cada vez que vestia uma máscara me enganava, trupicava nos assuntos ou até me transformava num débil como no dia do abadá... Eu não sabia o que fazer, estava desesperado, me dava conta naquela hora, que a minha tara por possuir todas as mulheres do mundo era impossível, nunca conseguiria agradar a todas, mas eu queria, eu queria, faria de tudo, pirei naquela noite pensando no que eu deveria fazer... Matei um maço de cigarro e não me acalmei. Eu as queria, todas... No meio daquela loucura que eu louco diagnostiquei como crise de abstinência com um toque de síndrome de Don Juan, abandonado por Mercúrio, o mensageiro do amor, tomei remédios pra dormir...

Acordei com uma vontade imensa de matar o Chico Buarque.

segunda-feira, junho 19, 2006



LIMITE
niRao Carroll, sobre texto escrito às 01:31 em 07/07/2002

Um ano de namoro e nada. Era sua situação-limite. Haviam trocado muitas confidências e carinhos, mas na hora tão esperada por ele, nada. Era categórica: não aceitava contestação!

Há exatos 367 dias antes, após muitas conversas via msn e trocas de olhares na sala de aula, Alice aceitou o convite para ir ao cinema. Senti o seu coração dentro da caixa torácica ao colocar seu melhor perfume. Quando a viu de longe, lembro das gotas de suor a passar pela pele e umedecer a camisa. Ela o cumprimentou com um beijo estalinho tentando disfarçar o frio na barriga, ele pagou a meia-entrada dos dois. Era a primeira vez que tinham um encontro. Três dias depois estavam namorando.

Ao completar um ano de compromisso, preparou a casa como em “uma linda mulher”. Até pediu ao porteiro que comprasse um vinho no supermercado. Foi uma tarde inesquecível. Mas, ao anoitecer, quando fez menção de se despir, ela parou a brincadeira e foi embora.
À noite, na cama, recebe o telefonema: Alice morrera atropelada perto de casa. Coração disparando, suor e lágrimas escorrendo pelo rosto, tudo cessou ao ver o corpo da amada coberto, na sala mal iluminada do IML. Parecia que a menina estava adormecida a espera do beijo do príncipe encantado que levantou o lençol tentando resgatar o último suspiro de vida nos olhos verdes, arrumou o cabelo loiro manchado de sangue e mercúrio; e penetrou Alice pela primeira e última vez.


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