segunda-feira, dezembro 25, 2006




Edição especial de Natal.




Á sombra da Galinéria.

Tudo, á sombra da Galinéria.
Eu,e os meus mesmos brinquedos.
Eles ,e seus belos enredos.
Deus ,e seus loucos segredos.

A Galinéria,planta sagrada.
Bela,dourada,ensaboada e triste.
Galinéria,árvore esbelta e loira.
Mas encurvada e desolada.
Por saber que não existe!

Todas aquelas tardes.
Eu e meus bonecos,paus e pedras.
A caminho da sombra fresca que empretecia meio jardim.
Era a sombra da Galinéria,que só dava flores pra mim.

Aos pés da Galinéria,fui realmente feliz.
Escapei até de tiroteios,só não morro por um triz.
Escrevi meu nome e o de outra uma.
A Galinéria firme aceitava.
E não apagava letra nenhuma.

Numa das quintas de novembro.
Me pindurei em seus galhos.
Que me entendiam,e não me deixavam cair segurado por outros vários.
E do alto da Galinéria,mesmo com o balançar dos ventos.
Eu nunca caia no chão,e se cai eu não me lembro.

Para os que passavam na rua.
Eu era só um moleque a pular.
Para crianças que só me viam.
Restava concordar comigo,quando mentia que sabia voar.

Até que um dia.
A imensa sombra de um avião.
A pobre da minha árvore engolia.
Transformando tudo em escuridão.

Cabeça pesada.
Boca aberta
Peito frio.
Meu avozinho veio correndo e me deu a mão.
Tudo ficou vazio...
Ele depois de longamente respirar
Me falou com seu sotaque espanhol:

-Com sombra menina, só se brinca em dia de Sol.




A estrela Vietnamita.

Áquela estrela
tímida á esquerda do Cruzeiro do Sul
Dizem que é pedaço das três marias.
Nego diz também,que á meia-noite,seu brilho varia.
Ouço falar dos mais velhos que ela é lágrima de algum orixá.
Os mais gulosos dizem que de seu brilho se pode fazer chá.
Há a versão dos aventureiros,que juram que montado num bode você chega lá.
Meu tio amalucado diz que são seres,querendo nos governar
Minha mãe diz pra só olhar pra ela,quando acabasse o jantar.
Ouvi que ela é toda feita de pedaços de gente.
Ouvi dizer que é pra lá que se manda criança que mente.
Meu primo jura que a estrela fica lá o dia inteiro.
O primo do primo dele,diz que ela só brilha daquela forma no mês de janeiro.
Alguns ousam culpar a estrelinha pelo fim de todo silêncio.
Mas não o início de qualquer barulho.
Meus cães farejadores até, já me latiram sobre suas teses
Com orgulho.

A estrela vira glória na boca dos heroísticos.
Vira esperança nos olhos dos poetas.
É futuro certo nos papíros dos profetas.
É só mais um corpo celeste,na opinão dos patetas.
É a responsável pela corridinha da gente quando a chuva aperta.
É uma tossida de Deus.
É uma torcida nos céus.
Apenas o reflexo de uma outra estrela que acima de uma núvem paira bonita.
Mas numa noite eu descobri,ser mais que uma misteriosa estrela
E sim,que era uma estrela vietnaminta.

Ela veio até a minha varanda.
Confidenciar-me o seu segredo.
Devagar,como toda estrela anda.
No início eu confesso,sentir medo.
Mas falava com uma fala mansa de alfafa
Afofando meu ouvido e meu peito
Sussurro de estrela no canto do ouvido esquerdo
Contando segredo
sagrado pros céus.
Sem cerimônia confessou:
- Sou Vietnamita.

Ah mas que engraçado!
...nascida e criada em Ho Chi Minh
Não era cadente.
Não era guia.
Era vietnamita.
Jogou muita bola nas ruas de Hanoi.
Morou até a velhice nas montanhas de Dalat.
Passava as férias em Nha Trang
até que resolveu subir pelo firmamento.

Subiu de novo,me olhando com confiança.
Esperando que eu guardasse só pra mim a confidência.
O sol já vinha raiando,dei uma última olhada pra cima.
E voltei calado para o interior da minha residência...



A fita.

Ali que só ela.
A fita no cabelo,a fita na janela.
Envolta da cortina.
Na cintura magrela.
A fita,lisa...

Sedosa,trêmula.
Cetim beija o vento de língua.
Lânguida,bamba.
Escorrega pelo meio dos tempos.
Chora na beira das campas.

Pisca.
Brinca.
e duvida,a fita.

Um dia vai furar o céu.
A fita,lisa, e linda,rodopia,e dança com o vento.
Não respeita tempo.
Tudo a seu tempo.
seu próprio tempo.
O tempo que a fita,e só ela,determinar.




Um dia.

Já tanto falei sobre as horas.
Horas e horas.
nas horas.
Eu nas horas...por horas.
Por muitas e muitas horas...

Enquanto elas passam eu sei que choras.
Molhando-as,molhando todas as horas.
E eu choro também...dentro das minhas longas horas.
Quando você não vem.
Horas que você não tem.
Momentos que você tem também...momentos feitos de horas,feitos por horas.

Elas devem...
Mas não querem passar.
as horas.
por mais que se mude de assunto ou se ocupe a vida.
Estamos mudando de assunto.
nas horas.
E levando nossas vidas.
nas horas.
Não se foje delas...as horas,por horas.

Não adianta,correr para tentar matar as horas.
Ou falar,ou jogar,ou fumar.
Ou brincar,ou pensar,ou orar...mesmo orando se está horando.

Vive-se na marca...a marca do relógio.
a marca autoritária das horas.
Todos trabalham pras horas.
O tic e o tac.
E o seu badulaque.
Tempo e o vento.
e o nosso momento.
A aldeia,a corte.
e os raios de noite.
Os doidos e os doídos.
e os nossos rugidos...nas horas.

Ás horas!
Aquelas que não chegam nunca atrasadas.
Nunca fora de hora,
As que sabem bem quando ir embora.
As que quando chegam bem,é em boa hora.
Escrevi tantas dela que até me arrepia,
ao fim do poema,chegamos num dia


Web Counter