sábado, julho 22, 2006







dissolução de uma pintura em cinco etapas



I


três blocos de um enorme conjunto habitacional, entre os prédios, um pequeno playground com cinco crianças brincando, duas estão no balanço, a menina indo para a frente e o menino para trás, os dois se olham, uma outra criança está sentada num roda-roda esticando a mão em busca de seu boné que caiu, três mulheres encostadas num corrimão de metal conversam entre si, a da esquerda tem um cigarro entre os dedos, a do meio olha para o boné do menino, a da direita não faz nada, perto dos balanços, um homem com as mãos no bolso olha a sola de seu sapato, dois rapazes uniformizados carregam uma caixa de madeira pela rua que separa o parque da entrada dos prédios, o que está de costas para a entrada do edifício está olhando para a mulher que não faz nada, o porteiro segura a porta aberta enquanto os dois se aproximam, não há quase areia no chão do playground, a sombra do sol descendo divide o parque numa linha diagonal, dos dois carros parados na rua, uma caminhonete velha sem rodas está no sol e uma van com as portas abertas, na sombra, os três prédios se parecem muito, o da esquerda apresenta uma rachadura enorme na pintura, o do meio tem a maioria das suas luzes acesas, o da direita não tem nada, numa das janelas no penúltimo andar, onde a longa rachadura encontra a esquadria, um homem se debruça um pouco demais, sem o conhecimento da vizinhança

Terça-feira Amazonas Tupinambá (75cm x 60cm; Óleo sobre tela)


II


três blocos de um enorme pequeno playground com crianças brincando no balanço, indo para a frente trás olham, uma outra está num roda esticando a mão em busca de três mulheres encostadas entre si tem um cigarro os dedos do meio para o menino da direita não faz nada, perto dos balanços, um homem com as mãos olha dois rapazes uniformizados carregam uma madeira pela rua que separa entrada dos prédios que está de costas para a entrada está olhando para a mulher que não faz nada, segura a porta aberta enquanto os dois se aproximam, não há areia no chão do playground, a sombra divide o parque dos dois carros parados na caminhonete
sem rodas está com as portas abertas, na sombra parecem muito uma rachadura n o meio das suas luzes acesas não tem nada, no penúltimo andar onde a longa encontra um homem um pouco sem conhecimento da vizinhança

Terça-feira Amazonas Tupinambá (75cm x 60cm; Óleo sobre tela)



III

três de um norme ground com crianças ando para frente trás uma outra roda ando em busca de mulher costa s si tem os menino não nada, perto com as mãos olha dois uni uma rua para entra dos dios de costas ando para a mulher
aberta quanto dois , não há chão do playground sombra parque dois parados na caminho

sem com portas abertas na sombra pare mu um acha luz tem nada, último contra homem sem vizinhança

Terça-feira Amazonas Tupinambá (75cm x 60cm; Óleo sobre tela)



IV

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Terça-feira Amazonas Tupinambá (75cm x 60cm; Óleo sobre tela)




V

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Terça-feira Amazonas Tupinambá (75cm x 60cm; Óleo sobre tela)






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clube do bolinha avisa:

quem da xilique e quebra garrafas d'agua merece morrer mesmo. que coisa de histerico. nunca vi.

sexta-feira, julho 21, 2006






FÜR ALICE

Alice era do tipo de garota que deixava que seus cachos adentrassem pela minha mesa e me ajudassem a fazer a prova, transformava a química em algo mais bonito...mais cheiroso.
Ela na minha frente, sentada e ainda sim demonstrando a vivacidade que me deixou curioso e me deu vontade de escrever sobre ela, que talvez não signifique absolutamente nada, um trema no meu alfabeto ...mas ainda sim, uma brisa tão leve no moinho do universo,como mais uma criança da vizinhança filha de algum morador que eu não fui apresentado ,mas que talvez valha a pena um depoimento... e por que não?
Muitos, talvez todos os poetas escrevem sobre suas musas inspiradoras e mulheres que muito significaram para eles, como não sou poeta, eu me dou ao luxo de escrever sobre Alice,que não foi um de meus amores,nem tampouco uma grande amiga...mas com o pouco tempo de vivência que eu tenho eu começo a perceber que muitas outras pessoas já fizeram o papel que Alice faz hoje,muitas outras já também chegaram a significar muito e depois de certo tempo, parecia impossível se lembrar seus respectivos nomes,e outras eu me esforço ainda hoje para que signifiquem tanto ou menos que Alice, e é para o bem desta simpática e risonha menina que não me nega um bom-dia que cá estou eu tentando falar de Alice.
O único medo que eu expresso é de por algum desvio do destino Alice passe a significar muito para mim, neste caso eu serei apenas mais um tentando ser poeta...o que deixo aqui claro,não é a verdade, então para que isso não aconteça , juro solenemente na frente dos meus leitores que não levarei nem um pouco mais longe do que é, a minha amizade( se é que pode-se usar esta palavra) com Alice.
Tenho dito.

Os cabelos de Alice eram caichos enrolados e tinham vida própria, tinham um encaixe perfeito com o semblante de feições agressivas porém inespressivas, inespressivas ao ponto de não deixar-nos definir se Alice era bonita ou não.
Apesar de não ter nenhum interesse assumido em Alice, eu sei que algo no jeito aprendendo a ser mulher dela me chamava a atenção.
Seus pesados brincos de argola, seu largo sorriso com lábios prontos para oferecer outros e mais outros sorrisos,bom-dias entre outras muitas simpatias que Alice era mestra.
E se não sabem o que é um idiota, eu lhes explico: é qualquer pessoa que não se encantou pelos ombros de Alice...tinha belos ombros e sabia disso, gostava de exibi-los, e eu por também saber disso, gostava de vê-los era uma relação suficientemente justa...
Tinha um namorado, do qual eu nunca havia visto nem sombra talvez por não estudar na mesma escola, pra mim realmente não fazia diferença se ela era casada ou não, para mim ela nada mais era do que Alice, a menina dos caichos....

Alice sempre tinha bala, mas nunca dava e não negava que negava por pura economia, perdoem me o eufemismo.
Penso cá eu se num futuro eu sentirei saudades da Alice...penso até num futuro mais próximo, no meu último dia de aula, na despedida será que eu vou olhar pra ela mesmo sabendo que é a última vez que nos vemos e ainda sentir o nada que eu sinto por ela no momento?

Não faço a menor idéia...

Muitos já imploraram a Deus que não tirassem determinadas pessoas de suas respectivas vidas, pois eu digo que Deus tem o aval para tirar Alice da minha.

Semana passada cheguei a quase chorar olhando para Alice sabendo que seu destino é ser apagada, sem nem que eu quizesse. Logo nos dias de hoje enquanto tento apagar tantas pessoas que já chegaram a significar tanto para meu peito... e me decepcionaram...Alice não me decepciona, até porque não aposto ficha nehuma em Alice.
Posso confiar em Alice...por não conhecê-la ou amá-la.

quinta-feira, julho 20, 2006








Quando Werner nasceu, no mesmo quarto acontecia um parto espetacular. Era o primeiro parto de sétuplos do mundo e a mãe dos bebês havia convidado todas as emissoras do país a televisionarem o recorde. No mesmo momento em que todas as câmeras focalizavam a grávida recordista, nascia, ao fundo do quarto, Werner. Assim, pode-se dizer que Werner já nasceu figurante.
Depois, quando pequeno, na escola, Werner estava sempre no meio da massa de alunos, jamais se fazendo notar. Quando tentava dizer algo, todos o reprimiam e o mandavam ir para o fundo. Aliás, uma coisa que Werner logo descobriu é que ele estava sempre no fundo. Quando ele por acaso se sentava na frente da sala, era no fundo que as coisas ocorriam, fazendo com que ele se sentisse no fundo em relação àqueles que lá estavam. Por mais que tentasse, Werner nunca era o centro das atenções. Se ele por acaso resolvesse fazer uma loucura, como vestir um maiô e dançar cancan, quando ele olhava à sua volta todos estavam fazendo o mesmo há muito tempo e ele estava apenas imitando a multidão dançante.
Quanto à sua aparência, não se pode dizer que ele era bonito. No entanto, nada nele desagradava ao olhar. Possuía os olhos no lugar, um nariz perfeitamente normal e o cabelo como qualquer outro. Se até hoje não se falou muito em Werner, é só porque ninguém se lembrava dele, embora ele tenha participado da vida de muita gente, sempre passando ao fundo e dando um colorido especial à cena. Um homem perfeito para se ter na vizinhança.
Sua vida no entanto não era um marasmo. Muito pelo contrário. Ao seu lado sempre aconteciam as coisas mais fantásticas. Bastava ele andar na rua para que prédios pegassem fogo, super-heróis aparecessem e pessoas fossem abduzidas. No entanto tais coisas não aconteciam jamais com ele, que apenas observava perplexo e conversava com as pessoas ao seu lado (sem no entanto emitir som, é claro).
Aos 63 anos, Werner morreu. Ou melhor, foi demitido: olhou para a câmera.

quarta-feira, julho 19, 2006




SOBRE PROBLEMAS DE “LOGÍSTICA”


Todos os alunos aplicados, já finalizaram esse simples exercício de Lógica, mas agora ele foi alterado, Veja se você é capaz de resolver o seguinte problema:

Imagine um prédio e 5 diferentes andares. Em cada andar mora uma pessoa diferente, sendo que esses 5 inquilinos tem diferentes empregos, diferentes vícios
e têm 5 diferentes manias escrotas. Observa-se que nenhum deles têm o mesmo vício, emprego ou mania escrota. Sabe-se o seguinte sobre esta vizinhança:

01. O negro mora no décimo segundo.
02. O gringo se masturba na janela.
03. O mameluco é office boy.
04. Do terceiro, vê-se as roupas estendidas na varanda do térreo.
05. A inquilina do terceiro andar é manicure.
06. O inquilino que injeta, dá tiros pela janela durante a madrugada.
07. O cara que mora no oitavo de fundos, fuma maconha.
08. O inquilino que mora no quinto é leão de chácara.
09. O paraíba mora no térreo.
10. O inquilino que cheira pó, mora logo acima ou abaixo do que chega sempre bêbado.
11. O inquilino que bate na mulher, mora logo acima ou abaixo do que fuma maconha.
12. A inquilina que é prostituta, cheira cola.
13. O albino toma bala.
14. O paraíba mora logo abaixo da Manicure.
15. O inquilino que cheira pó, mora logo acima ou abaixo do cumim do La Fiorentina.

A Pergunta:
Por que Copacabana é um bairro tão escroto?

segunda-feira, julho 17, 2006



Se os tubarões fossem homens


Se os tubarões fossem homens, perguntou ao senhor K. a filha de sua senhoria, eles seriam mais amáveis com os peixinhos? Certamente, disse ele. Se os tubarões fossem homens, construiriam no mar grandes gaiolas para os peixes pequenos, com todo tipo de alimento, tanto animal quanto vegetal. Cuidariam para que as gaiolas tivessem sempre água fresca e tomariam toda espécie de medidas sanitárias. Se, por exemplo, um peixinho ferisse a barbatana, lhe fariam imediatamente um curativo, para que não morresse antes do tempo. Para que os peixinhos não ficassem melancólicos, haveria grandes festas aquáticas de vez em quando, pois os peixinhos alegres tem melhor sabor do que os tristes. Naturalmente haveria também escolas nas gaiolas. Nessas escolas os peixinhos aprenderiam como nadar para a goela dos tubarões. Precisariam saber geografia, por exemplo, para localizar os grandes tubarões que vagueiam descansadamente pelo mar. O mais importante seria, naturalmente, a formação moral dos peixinhos. Eles seriam informados de que nada existe de mais belo e mais sublime do que um peixinho que se sacrifica contente, e que todos deveriam crer nos tubarões, sobretudo quando dissessem que cuidam de sua felicidade futura. Os peixinhos saberiam que este futuro só estaria assegurado se estudassem docilmente. Acima de tudo, os peixinhos deveriam voltar toda inclinação baixa, materialista, egoísta e marxista, e avisar imediatamente os tubarões, se um deles mostrasse tais tendências. Se os tubarões fossem homens, naturalmente fariam guerras entre si, para conquistar gaiolas e peixinhos estrangeiros. Nessas guerras eles fariam lutar os seus peixinhos, e lhes ensinariam que há uma enorme diferença entre eles e os peixinhos dos outros tubarões. Os peixinhos, iriam proclamar, são notoriamente mudos, mas silenciam em linguas diferentes, e por isso não podem se entender. Cada peixinho que na guerra matasse alguns outros, inimigos, que silenciam em outra língua, seria condecorado com uma pequena medalha de argaço e receberia um título de herói. Se os tubarões fossem homens, naturalmente haveria também arte entre eles. Haveria belos quadros, representando os dentes dos tubarões em cores soberbas, e suas goelas como jardim que se brinca deliciosamente. Os teatros do fundo do mar mostrariam valorosos peixinhos nadando com entusiasmo para as gargantas dos tubarões, e a música seria tão bela, que seus acordes todos os peixinhos, como orquestra na frente, sonhando, embalados, nos pensamentos mais doces, se precipitariam nas gargantas dos tubarões. Também não faltaria uma religião, se os tubarões fossem homens. Ela ensinaria que a verdadeira vida dos peixinhos começa apenas na barriga dos tubarões. Além disso se os tubarões fossem homens também acabaria a idéia de que os peixinhos são iguais entre si. Alguns deles se tornariam funcionários e seriam colocados acima dos outros. Aqueles ligeiramente maiores poderiam inclusive comer os maiores. Isso seria agradável para os tubarões, pois eles teriam com maior freqüência, bocados maiores para comer. E os peixinhos maiores detentores de cargos, cuidariam da ordem entre os peixinhos, tornando-se professores, oficiais, construtores de gaiolas, etc. Em suma, haveria uma civilização no mar, se os tubarões fossem homens.”

Bertold Brecht
(contribuição de Alexandre Barbosa Teixeira)
P.S. Se alguém sentir falta da palavra vizinhança, favor reler o texto.


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