sexta-feira, junho 02, 2006





Atrás de ti, rosa.




Digamos que alguém compre um terno de segunda mão num brechó que também vende molduras e livros escolares usados. Digamos também que uma das magas do paletó esteja costurada dentro do bolso, já que seu antigo dono tinha um braço só (pode ser que ele tenha perdido o braço trabalhando numa mina, mas pode ser também que ele tenha perdido o braço numa aposta.).

Agora digamos que essa pessoa que comprou o terno, e que acabou de descosturar a manga de dentro do bolso, encontra um pedaço de papel nesse bolso e que, nesse papel, esta escrito o seguinte:

“ e qual das torturas redimirá
a tua tristeza e a Capadócia?”

E, finalmente, digamos que essa pessoa que acaba de gastar vinte reais num terno e num pedaço rasgado de papel é ninguém mais, ninguém menos, que você. Logo você, que entrou lá procurando uma edição em boas condições do livro do Gustav Tomski que tem o conto Por trás da tua roseira (ou Atrás de ti, rosa numa outra tradução), aquele em que o cara se apaixona por um vulto que vê à noite no jardim e, mesmo descobrindo na manhã seguinte que se tratava de uma roseira, continua apaixonado e pula da varanda sobre as flores.

Você está sentado no ônibus há um bom tempo. Os seus pensamentos oscilam entre por que uma nuvem preta em cima do Leblon sempre me dá sono e o que que acontecia mesmo quando o cara pulava na roseira. Você encosta a cabeça no vidro e deixa os buracos na estrada e a violência do motorista embalarem o seu cansaço. O frio te obriga a esquentar as mãos e você as esconde nos bolsos do paletó – é aí que se lembra que no forro do bolso recém-descosturado tem aquele papel que diz:

“ e qual das torturas redimirá
a tua tristeza e a Capadócia?”

Você se chama Tomás e Tomás tira o papel de dentro do bolso e examina-o com cuidado. É obviamente um canto de pagina de livro em que alguém copiou os dois versos e depois rasgou. Tomás levanta o papel e observa que a caligrafia era como a das meninas na época em que estava na escola: aquela coleção de letras de fôrma bem desenhadinhas, com cuidado e caprichando especialmente nos os e nos is.

“Grande São Jorge da Capadócia...” disse um cara do seu lado, fazendo Tomás perder a harmonia com o ônibus e acabar batendo a cabeça contra o vidro.
“Pô, mal ae, te assustei né...” Tomás olha para o cara com certo tédio.
“Eu só tava falando do papelzinho aí...Capadócia...é o São Jorge da Capadócia né...” Tomás continua quieto, sonolento, olhando para o rapaz.
O cara volta a olhar pra frente e Tomás fica aliviado que a conversa acabou.

“Historia triste essa do São Jorge da Capadócia...” continua o cara, que não tinha virado para olhar pra frente, mas para relembrar o passado.“São Jorge e o dragão...ele morreu degolado, sabia né...”
Tomás acha graça. “Quem? Jorge ou o dragão?”
O homem responde com a mesma descontraída seriedade. “Acho que os dois né...mas eu tava falando do São Jorge, guerreiro de deus...morreu degolado pelo imperador da Capadócia...seu Diocleciano...”
Se o terno não estivesse começando a incomodar o seu pescoço, Tomás teria se dado ao trabalho de prestar alguma atenção nas palavras desse preto crente. Começa a chover ruidosamente do outro lado da janela. O papel continua entre seus dedos.

“Qual o teu nome?” pergunta pro cara.
“Anderson” você responde, porque o seu nome é Anderson e você gosta de lembrar que seu pai se chama Ander e que son é filho em estrangeiro.
Torcendo pra que esse jovem emburrado olhando pela janela pare de te tratar mal, você pergunta de volta “E o teu?”
“Tomás” é a resposta seca que ele dá.
“Você acredita em Deus, Tomás?”
Ele não responde, fica te olhando com cara de quem tem nojo da pergunta. Você ignora e continua contando sobre a morte do santo. “São Jorge morreu porque se negou a renunciar-se de sua fé em nosso senhor Jesus Cristo, né. Ele era o melhor dos guerreiros do exército de Diocleciano, mas o Imperador não teve piedade e, mesmo vendo todos os milagres do Senhor, mandou matar o pobre coitado, né.”

Tomás volta a olhar para a janela e o papel descansa apertado na mão dele. Volta e meia você consegue ler o que está escrito.

“ e qual das torturas redimirá
a tua tristeza e a Capadócia?”

Você não sabe como dizer para esse moleque mal-educado como o que ele escreveu é bonito. Por outro lado, ele não parece o tipo que escreve, né. Quem sabe não foi a garota dele. As meninas são mais sensível pra essas coisas de poesia e do divino, né. A chuva batendo no ônibus e as luzes do trânsito te trazem uma tristeza branda mas pungente e você logo sente que se não continuar falando vai acabar chorando de melancolia.

“São Jorge foi morto porque acreditava em Deus né...”
“Pois é...”diz Tomás, desinteressado.
“Foi a sua namorada que escreveu isso?”
“E que porra de pergunta é essa?”
Você percebe que irritou o rapaz. De fato foi uma pergunta estranha. Você tenta consertar mudando de assunto.
“Ninguém redimirá a tristeza de Jorge e de todo o reino da Capadócia com o que o Imperador fez né...”
Tomás te olha agressivamente, querendo claramente terminar a conversa.
“E quem disse que a tristeza é dele? Pode ser do outro cara, o Imperador Diocesar ae...”

Anderson desvia o olhar. O ônibus fecha um outro carro enquanto o barulho da chuva atesta a gravidade. Tomás encosta a cabeça no vidro de novo – o sono foi embora e deixou somente a irritação de perceber que o terno que comprou fede muito – e continua tentando lembrar como que terminava aquele conto do G.Tomski...tinha algo a ver com os espinhos, ou não tinha. Anderson também está perdido em pensamentos, sem saber se a tristeza pertence a São Jorge, Diocleciano ou a ele mesmo.

Digamos que alguém ache a edição do tal livro e constate que o conto Por trás de tua roseira não existe. Digamos também que numa das páginas desse livro – todo anotado e comentado pela última proprietária – um dos cantos inferiores da folha está rasgado. Digamos, por fim, que esse escritor G.T. perdeu um dos braços numa aposta que fez com um general polonês quando os dois estavam bêbados, tentando se proteger do frio, da chuva forte e da tristeza.







+++


“ E eu – mal de não consentir em nenhum afirmar das docemente coisas que são feias – eu me esquecia de tudo, num espairecer de contentamento, deixava de pensar.”
Grande Sertão: Veredas


Os Bem-Te-Vis
E as rosas, eram todas amarelas”
( Jorge Ben Jor)


Acordou num feriado destes ligados a questões de orgulho a pátria e perdeu determinado tempo se olhando enfrente ao espelho, era muito bonito e sua barba crescia como grama, se admirou sem muito ogrulho durante certo tempo.
Levou sua mão até o barbeador e ia se por a fazer o óbvio.
Se pôs.
Levantou a lâmina afiada do barbeador até ficar ameaçadoramente prateada e paralela a seu bigode que com paciência chinesa foi sendo desvenciliado de seu rosto. Ernesto acabou com os sonhos da multiplicação que seus pelos poderiam ter .
Ernesto não gostava daquilo, mas parecia gostar pois era obstinado e meticuloso, nunca um capadócio como seu tio Arnolfo que sempre fazia a barba de qualquer maneira, deixando alguns pelos órfãos mendigando pelas bochechas, não gostava muito de órfãos, talvez por ter sido maltratado pelos gêmeos Sidney e Ciro, que moravam com a avó na antiga casa verde perto da farmácia em Nova Iguaçu, onde passava seus fins de semana com o pai aposentado que fazia pipas e vendia cerol ilegalmente.
A lembrança das pipas vinha, e montes e grupos de cabelo se soltavam do rosto pacientemente.
Primeiro os do papo embaixo do queixo, eram feios e enrolados e difíceis de sair, além de coçarem, como coçavam...
O queixo não poderia escapar, com seus pelos salientes que pareciam oriçados e festejantes.
O dia era calmo e passaroso, os Bem-te-vis e suas flautas internas ocasionavam pequenas rupturas de trinta e cinco centímetros na paz.

O clima de paz esburacada era a melhor descrição para a cor que pintava o diafragma de Ernesto; Ernesto tinha uma beleza digna de admiração que ia se revelando ao passo que seus pelos “dexistiam”.
O sujeito , absolutamente calado olhava o espelho em sua forma retangular, e olhava seu rosto e suas várias formas geométricamente variadas era manhã cedo que cheirava a desenho animado...Ernesto nunca parou para refletir e refletia na frente do espelho.
Ernesto tinha fulgurantes olhos azuis, que pareciam rolar oníricos em suas órbitas desprotegidas senão pelas pálpebras rigorosas, porém leves.

Ernesto direcionou seus olhos por toda a casa, até o momento encandecido em que paralizou-se mirando o telefone, que estava sentado sobre uma antiga mesa de madeira ao lado da cama, os fios do telefone eram como pernas de uma menina bela que vai a um balanço e se põe a balançar com as pernas serelepes no ar.
Parecia seca, porém mágica a fitada que Ernesto dedicou ao objeto de comunicação, pois no exato momento em que o rapaz deitou sua atenção sobre o telefone...ele não tocou.
O barulho que o telefone não fez era simples ,como toda vez que o telefone não faz barulho, porém parecia realmente ensurdecedor, num tom tão complicado , que nenhum músico mesmo que com orquestras das mais sinfônicas,imperiais, estrombólicas ou seja lá que tipo de evolução tivessem, jamais conseguiriam reproduzir nem parecido.
Ernesto sentiu a dor no mais profundo de seus ouvidos, nunca ouvira aquilo daquela forma, o telefone nunca não tocara de maneira a eriçar todos os pelos de seus braços e lotar a porta dos seus olhos de água salgada.
Ninguém ligara, ninguém nunca ligou...lembrando de sua solidão, Ernesto lembrou que ninguém lembrava de sua solidão, só ele, só...só.
Derrubou alguns pelos da bochecha esquerda e limpou lentamente a lâmina.

Se alguém fosse descrever a cena, diria que era um sujeito fazendo a barba enquanto chora, mas a verdade é que Ernesto estava chorando enquanto fazia a barba.
Mirou a fechadura da porta com os olhos mareados com uma expressão no rosto muito parecida com a que Ciro ou Sidney fazia quando Dona Neide brigava com eles por importunar garotos mais fracos como Ernesto.
Em respota ao olhar expressivo do rapaz, a porta não abre e mantém a aparência cabisbaixa que toda a casa parecia ter.
Ernesto aguça a sua percepção para ver se era capaz de ouvir alguém tocando a campainha, mas não há ninguém, nunca houve.

Ernesto apenas respira fundo e assume expressão de quem sabe o que fazer, o peito parece dar um coice.
Ernesto levanta seu braço ainda trêmulo até a parede, e apoia todo o seu corpo neste mesmo braço, limpa com minúcia a gillete e põe-na no rosto, de modo a deixar claro que o óbvio a se fazer seria se livrar das costeletas e então, Ernesto arranca sua própria orelha.

O sangue se declamou pescoço abaixo antes mesmo da orelha tocar o chão, observou atento sua orelha de um ângulo inédito, três Bem-te-vis cantaram juntos ao mesmo tempo , todos de olhos arregalados como o meu estaria se eu estivesse lá, mas nunca o de Ernesto, que agia como se tudo já tivesse sido cuidadosamente definido antes.
Bem-te-vis, fora o que o ouvido que restou preso a cabeça pode detectar.
O caso não era ódio de Ernesto por Bem-te-vis, e sim preferência por uma voz que usasse mais consoantes em suas falas, uma voz humana, porém as lágrimas que se misturavam com o sangue fizeram Ernesto se decidir , não precisava ouvir a ninguém, raspou uns pelos da outra bochecha, semicerrou os olhos com determinação e feito bote de cobra, atacou com a lâmina a orelha que sobrava...não precisava ouvir a mais ninguém!

Alma tonta, corpo leve e sem orelhas , aquele era Ernesto , sólido e ainda um pouco paralizado, dizem os Bem-te-vis, que ele soltou um grito de agonia exibindo todas as veias da garganta e o fazendo até cambalear sem fôlego num esforço nunca feito antes , mas não poderia ouvir nem que usasse de mais força.
O sangue rastejava no chão feito uma cobra vermelha lenta como se lambesse o chão de toda a casa.


Quatro Bem-te-vis, voaram cantando janela adentro, Ernesto só os viu voar.
Ernesto pegou suas duas orelhas ,levou a seu quarto ,passando pelo telefone que talvez tenha não tocado novamente mas nunca o saberia, prefere assim...
Abre a gaveta embaixo da televisão e deposita as orelhas lá.
A imagem na Televisão revela alguém dizendo qualquer coisa, Ernesto não seu importou. Se ele falasse, também ninguém iria se importar , não tinha orelhas, mas para ouvir Ernesto ninguém tinha mesmo.
Levou sua mão triste até a gaveta ao lado da outra gaveta onde estavam suas orelhas e pegou um rolo de fita adesiva, tapou a boca com vontade, e depois de certo tempo uma núvem anda um pouco mais pro lado e Ernesto começa a retirar a fita com lentidão psicopática e vai sentindo na pele todos os músculos de sua boca se soltando da face até que a boca batera no ar-condicionado e se espatifa no chão quebrando quatro dentes e rachando o lábio.

Parecia realmente incompreensível uma imagem daquelas, ainda mais para um jovem astrônomo recém- formado.
Segundo os cinco Bem-te-vis que se juntaram, Ernesto tentava rir de tudo aquilo com uma soberba descomunal, mas não era um riso completo, já que Ernesto era nada mais que uma parede facial.

A situação para Ernesto parecia ter uma graça que talvez não fosse entendível para mim ou para você...

Não era mais tão bonito quanto aos moldes regulares de beleza, mas ao se olhar no espelho não sentia nada...se perdera em longos segundos que se assemelhavam a dias de sol ferrenho ,vendo o seu reflexo que não lhe dizia nada.

Sem orelhas e sem boca, Ernesto já não era tão Ernesto assim , mas ao mesmo tempo era mais Ernesto do que nunca.
Amargurado solitário, preso em si mesmo, respirando um ar seco da manhã ainda com dificuldades,não gostava de dificuldades, então prendeu a respiração obstruindo as narinas e fazendo que com tanta força, seus olhos fossem expulsos das órbitas e lançados contra o vento matinal cortante da Tijuca.
As duas esferas voaram pelo quarto como projéteis obstinados, a obstinação que faltava em Ernesto para viver, fora lançada furando o vento, os olhos puderam ver toda a casa e rodavam no ar.
Para os olhos de Ernesto, o mundo girava em direções cada vez mais inovadoras até que caíram num pequeno jardim que fora colocado ali não para abrigar órgãos ,mas apenas para dar um tom mais alegre aquela casa de aspecto tão triste.
No jardim, nada mais que dois olhos que jamais viram o mundo de maneira tão bela , e sem pálpebras para limitá-los, os dois não tinham mais órbitas para rolar, mas sim rosas, rolava entre as rosas...e as rosas eram todas amarelas.
As plantas doces tinham uma densidade peculiar que fazia os olhos lacrimejarem regando as rosas pelas laterais.


Quanto a Ernesto, este só tinha o nariz no rosto.
Parado em frente ao jardim , Ernesto sente um pouco de saudades, mas pensa que realmente é melhor assim até que...seu nariz senti um excesso de saudades dos olhos e se lança nas rosas, e o aroma quase que fura a parte superior de seu nariz que cai...deixando Ernesto sem rosto.

__Ernesto não tinha rosto, não por ter nascido assim, mas apenas por não achar necessário.__



Choraria se tivesse olhos, mas eles agora pertenciam as rosas.
Teria dificuldade para respirar se tivesse nariz, mas ele agora pertenciam as rosas.
Pediria socorro para algum santo se tivesse boca, mas ela agora pertencia as rosas.
...e as rosas eram todas amarelas.

O céu explode e uma revoada de Bem-te-vis agressivamente linda, vindos de uma núvem em formato de cozinheiro segurando um trem, entram na casa de Ernesto e pouquíssimo tempo depois retornam com a boca e as duas orelhas entre as finas patas e largaram entre as rosas.

Todos os Bem-te-vis, pararam e encararam Ernesto, pois sómente Bem-te-vis poderiam encarar um cara sem cara.
E como num duelo os dois têm uma conversa sem som e perturbadoramente gostosa, Ernesto abre seus braços ,suas bochechas agora lisas e livres de pelos, e sua testa agora livre de olhos se contraem formando um sorriso, e os bem-te-vis voam ferozes e rascantes para dentro do peito de Ernesto, e passaram a ocupar o lugar do seu coração , enquanto que este órgão cai nas rosas ...que eram todas amarelas.

Fim

quarta-feira, maio 31, 2006







Partindo-se ao meio (em quatro etapas)


1. Olhar-se no espelho e despir de si próprio tudo o que é o outro. Catar os frangalhos que restaram e chamá-los de qualquer coisa.

2. Xingar-se desesperadamente. Energúmeno. Egoísta. Sem caráter. Babaca. Otário. Verme. Pilantra. Pusilânime. Calculista. Qualquer nota. Covarde. Canalha. Cafajeste. Capadócio. Filho de uma puta. Tománocu.

3. Compreender a filhadaputice que nos caracteriza e amar, desperadamente, nossos vícios mais ignóbeis, dedicando algumas horas do dia a eles. Se der tempo, cantar. E sobretudo rir até cair duro.

4. E, finalmente,
aprender a empregar
a palavra dois
no singular.

segunda-feira, maio 29, 2006




Capadócio é a puta que te pariu, seu preto escroto!
Disse com violência e bateu a porta da loja antes de sair.


Dez meses depois, ele está deitado sobre a cama de concreto coberta com uma colcha estampada de flores tropicais que ganhou de presente da tia-avó.A projeção dos raios solares por entre as frestas da pequena janela lhe desperta agonia, que ele extravaza estourando plásticos bolhas que ganhou de presente do primo que trabalha na zona franca. Duas vezes por dia se levanta e vai até o quadradinho barreado sentir o calor do sol fragmentado no rosto, quando faz isso normalmente acende um cigarro daqueles que ganhou de presente do amigo guarda, se permite cinco por dia, um de manhã, um de tarde, um de noite, os outros dois traga quando vai à janela, mais uma forma de não perder a noção de tempo do que medo de câncer. Depois que trocou o relógio que lhe havia presenteado o filho por revistas pornográficas adotou este método para não ser tragado pelo tempo.



Estréia no dia 3 de junho, no Espaço Café Cultural/Petrobras, a peça MACÁRIO, às vezes a vida volta... A CIA ANÔMALA DE TEATRO tomará o entorno arquitetônico do prédio construído no século XIX a fim de estabelecer o imaginário do espetáculo: a perturbação causada pela indistinção entre as identidades da personagem, do ator, do público.

A dramaturgia
Considerada obra importante da dramaturgia brasileira clássica menos como texto teatral do que como escrita poética, a peça de Álvares de Azevedo foi valorizada no que ela possui de simbolismo. Deste modo, fundiu-se diferentes textos do autor (a peça Macário, o livro de contos Noite na Taverna e a obra poética A lira dos vinte anos) a fim de construir um enredo cuja poética cênica fosse capaz de sugerir uma "realidade outra" (ou uma outra história) que o espectador deve descobrir por si mesmo.

A peça
Macário é um jovem estudante que, em uma noite qualquer do ano de 1850, exausto da viagem que veio fazendo por entre os caminhos da Serra do Mar, decide para em uma estalagem a beira da estrada para se refazer do cansaço. A taverneira serve-lhe janta e, de repente, surge um desconhecido que do jovem se aproxima. Eles vão, aos poucos, se familiarizando mutuamente ao calor da conversação. Depois de beber, comer e fumar na companhia de boêmios e prostitutas, Macário decide dormir, mas antes quer saber o nome daquele que tão bem o tratou. O desconhecido resiste, mas acaba por revelar a sua identidade: "eu sou o Diabo". A partir deste momento, a taverna adquire uma outra dimensão onde diferentes histórias se misturam em uma atmosfera repleta de crimes — a morte do amigo Penseroso serve de exame comprobatório a respeito da visão de mundo que satã apresentou à Macário.

O espetáculo MACÁRIO, às vezes a vida volta... é o trabalho que deu origem a COMPANHIANÔMALA DE TEATRO, grupo de performance contemporânea que pesquisa a dramaturgia brasileira romântica. A Cia estuda a linguagem do ator-performer, por meio da qual busca estabelecer uma aproximação entre aspectos eventuais e ritualísticos da linguagem performática e a estruturação regular de um espetáculo teatral.

Direção e dramaturgia: Anna Beatriz Gaglione
Com a COMPANHIANÔMALA DE TEATRO
Elenco: Daniele Antunes, Fabiana Rocha, Pedro Henrique Nunes, Raoni Seixas, Reynaldo Dutra, Roberta Valente e Thatiana Ornellas.

Espaço Café Cultural/Petrobras
Rua São Clemente 409, Botafogo. Tel. 2526-2666.
(Estacionamento em frente). Capacidade: 50 pessoas.

Estréia: 3 de junho.
Sábados e Domingos às 20h.
Ingressos: R$10,00 (estudantes, idosos e artistas pagam meia).
Duração: 120 minutos.
Classificação etária: 18 anos.
Até 25 de junho.


Web Counter