...é só por isso que eu não ouço mais samba.Mi bemol.
De repente.
Mi bemol.
Assim sem explicações maiores, toda aquela noite era tocada em Mi bemol, e arrastava a madrugada leve e glamurosa como as madrugadas se arrastam pelos becos da boemia, e pelos becos dos corações maltrapilhos.
Pintores,paredes , van goghs.
Farmacêuticos, farmácias,donenças.
Tudo sem exceção soava Mi bemol.
As falas , conversas, lamentos.
Mi bemol,Mi bemol, Mi bemol.
Que amarga surpresa do mundo se Mi bemol tem gosto de tristeza , melancolia e neblinas em geral.
O grupo de música que tocava, não conseguiu seguir...deram espaço aos sambas de uma só nota que preenchiam o salão dos sorrisos que se costuraram como que ao acaso no rosto de algumas pessoas assim que os primeiros batuques se fizeram presentes...
A certa altura ,virei me a um sujeito que me era um ombro gigantesco e apenas disse que gostaria de nascer sem coração, pra ver se assim resolvia os problemas...falei isto em Mi bemol como não poderia diferente ser naquela maldita madrugada unínota.
Ele entendeu me como sempre, só que desta vez em Mi bemol.
Sambas e mais sambas...
Até que como do fundo de uma alma lamaçenta e podre , a visão rasga meus olhos e faz com que minha saliva desça rascante e quase que pelos olhos.
Era uma daquelas em que se sente que se fossemos ovíparos, exerceriamos esta função pela boca.
A morena sambava...em Sol Menor.
Como se isto fosse correto,bem talvez pra ela fosse mas nunca seria para mim um escravo das tendências totalitaristas do Mi bemol.
Todos em Mi bemol, por que ela sambaria de forma tão Sol menor se mesmo a música que embalava seu corpo estava em Mi bemol, se eu estava em Mi bemol...se a minha dor agora tocava um Mi bemol, o mais rígido e duro já pensado por qualquer piano...se é que piano pensa e não só obedesce a dedos.
O Sol Menor, somado ao Mi bemol constituiram a canção mais triste que existia e que era ritmizada pelo toque insistente do meu coração...que já deveria ter entendido a muito tempo que a música que ele toca a ninguém agrada.
Entender que o batuque que meu peito faz, jamais alcançará a beleza de um samba... e que talvez por isso deveria parar de insistir e silenciar-me um dia.
Talvez eu devesse cancelar o samba penso eu ao ouvir a canção cheia de pesar que as patadas no chão da morena lançam diretamente ao meu peito fazendo as poeiras do mundo se elevarem...não só as do mundo como as minhas prórpias poeiras.
Tremo.
Ela nunca olhou para mim, e sobre todas as palavras que eu já tenha lhe dito, nenhuma delas realmente foi entendida já que eu falei em Mi bemol e toda a vida a Morena sempre se declarou Sol sustenido e agora depois de tanto me acostumado com o sustenido dela, ela me samba em Sol menor...
Nossa união só poderia resultar no samba mais triste e insólito de todos, somos notas com baixa harmoniosidade, e mesmo que encaichando num contexto, meu peito toca um samba diferente do dela.
Vou deixar que ela se guie pelo seu samba desagradável...
Quando cantarem- no perto de mim eu tapo os ouvidos.
Não ouçam meu samba!
FIM