O insenso,o ouro, e a mirra do meu presépio literário.( Poemas tolos)Aderência
Eu tinha um peixe laranja;
Rajado de listras abóbora
Morava num aquário laranja;
Com água cor de abóbora.
A noite ele se empretecia,virava negrura por si
Suas listras também eram raios de noite.
Só se empalidecia perante Jacy.
Que reinava no alto com São Jorge no peito e sangrava o céu com seu sangue preto como maculada por foice.
Meu peixe nadava com o fluxo da água
Ficando sempre da cor do seu lar.
Virando lágrima com a minha mágoa.
Nadava lento carregando meu pesado olhar.
Eu tinha este peixe sem escama;
Soltava bolhas/arroto de amor perfeito.
Se pintava de sonho na minha cama.
Ele era a dor dos momentos belos, ele era o prazer do ar rarefeito.
As noites eram quentes, com ares plácidos e frios.
O peixe correndo metia-se logo a se esquentar.
Olhava pro aquário e parecia vazio.
Seu rosto era tão plácido e frio que sumia no ar.
Foi quando que numa tarde,tudo se inverteu
Na água mais preta o peixe era branco.
E eu não conheci o peixe meu.
Minh’alma pendia,meu peito era manco.
Olhei-o com tristeza,meu peixe gostou!
Olhei-o com estranhesa,meu peixe entendeu!
Dei-lhe comida, teu peito murchou!
Dei-lhe amor ,e meu peixe morreu!
Fim.
Ainda sim pensavasse em Milagres
Apostou que todos eram imprestáveis
Virou suas costas e lá foi Milagres... magérrima.
Trazia a peste para as famílias...
Queimava a janta....
Batia nas filhas.
...E ainda sim pensavasse em Milagres.
Morou anos no meio das pessoas,sendo respeitada apenas quando debutara no bairro.
Menina moça, de pais humildes, foi digna até de uns amigáveis tapas nas costas.
Pobre da gente ,criara um bicho tão carrancudo quanto estranho e que agora ninguém mais gosta.
Fedia.
Só quando ia para rua...tudo para que incomodasse...em casa tomava banho...(cantando) ...e ái de quem reclamasse.
...E ainda sim pensavasse em Milagres.
Furava bolas, matava gatos,cuspia fogo,quebrava pratos.
Rasgava cortinas, derretia parafinas, banhava filhos de fumantes com gasolina.
Tinha um velho porão,onde costumava esconder as crianças recém-nascidas.
Tinha sacas e sacas de feijão que cozinhava pra jogar nas moças mais bem vestidas.
Comprava fiado, roubava galinhas,festejava na casa da família de um sujeito recém assasinado.
...E ainda sim pensavasse em Milagres.
Tocou fogo em famílias, cancelou maravilhas, afundou muitas ilhas.
Fez um pai alcoolisar-se, desmoralizou fulanos, matou beutranos, despejou ciclanos.
Atraiu sangue sugas, apontou várias rugas, despejou várias pugas...
Fez o bairro tremer.
Deu nó em rabo de cavalo, deu mordida em vários calos.
Matou joaninhas, deu laxante ás galinhas...Matou Bem-te-vis!!
Fez o bairro a temer.
Vergonha não tinha...ela fez o que quis.
Desfez o bairro.
...E ainda sim pensavasse em Milagres.
A mulher e as verrugas nos dedos,de tanto apontar pras estrelas.
Apontava e já praguejando, invejosa pelo brilho delas.
...E ainda sim pensavasse em Milagres.
Assistia novelas mexicanas.
...E ainda sim pensavasse em Milagres.
Ao tirar Milagres do Bairro, Deus corrigiu o maior dos seus erros...mais acabou por cometer erro maior, em largar Milagres no mundo.
O dia foi lindo,o vento brilhava ...e Milagres ia com a mudança...
Seguia pronde fosse que seguia, era o caminho contrário da esperança!
Seu enorme nariz se afastava, e nossa felicidade se aproximava.
Descobri até que eu tinha nome, e nada parecido com o apelido humilhante que a desgraçada me dava.
Cada pasto era mais pasto, cada lírio era mais flor...
Cada olho era mais brilho,cada brilho era esplendor
Vaca velha,foste embora...era o ar que se respirava...
Tudo tão maravilhoso, até música se cantava.
A atmosfera quão brilhante quanto um belo vaga-lume enamorado pela flor de lis.
E tudo ficara mais adorável e viveu-se para
sempre feliz.
...E ainda sim pensavasse em Milagres... afinal o povo gosta mesmo é de uma desgraça.
Fim.
A brisa que veio depois do vendaval
Foi a brisa que passou logo depois do vendaval
O terrível terror que me depositou no chão
Foi a insignificância de um sussurro leve
Que me ventou para os cumes das mais altas montanhas de rígidas pedras do areal.
Foi o combate com o invisível o que me cansou
Foi Deus, fui eu.
A pupíla que se escancarou...
O mar branco que se fechou...
No momento mais tônico do meu ser, tornei-me apenas algo para ser ventado.
Joelho ralado...
Meus gestos não obedeciam comando algum que viesse de mim.
Minh’alma pensa não, Me’corpo diz sim...
A falta de equilíbrio é constância opressora.
Se a vida é mar, eu ...pobre onda sem vontade ou querer.
Tomado pela emoção, não mais batalhei , nem mais tentei me erguer...
E eu voava atrás do vendaval e agora era com gentileza...
De todos os meus pés, nenhum tocava o chão.
Eu era limpo...eu ventava, atrás do vendaval...sim eu me lembro.
Lembro-me bem daquela brisa, a brisa que veio depois do vendaval.