sábado, novembro 04, 2006

eutanásia ou porque eu faço comentários anônimos no meu próprio texto.



sempre evita frases sobre escrever. não gosta de se meter, não gosta de meta-linguagem. hoje acordou tarde e não tomou banho. passou o dia cheirando a sono. foi ao supermercado comprar uma garrafa de leite achocolatado. comprou também um filme de alienígenas. escurece cedo na inglaterra, onde mora. passou a tarde vendo filme e tomando leite achocolatado, com o computador no colo. tem que publicar um texto na internet mais tarde, meia noite no brasil - quatro da manhã na inglaterra. acha que vai escrever sobre alienígenas, mas gostaria de pensar em algo melhor. escreve algumas de linhas, mas apaga logo em seguida. repete o processo até desistir dos alienígenas. quer escrever sobre a textura da parede, mas isso não faz sentido. a luminária horrenda do apartamento também não faz sentido. acredita que metafísica é só um nível de detalhe nas coisas que a linguagem não tem apuro o suficiente para descrever. acaba a garrafa de leite e olha em volta insatisfeito. perdeu o arquivo com o header do site. obviamente não acha o header em cima da mesa ou na bancada da pia. acha, ao invés, três metros de corda que amarra na corrente da luminária, fazendo um laço na ponta. sobe na cadeira e passa a cabeça por dentro do laço. observa a bagunça da sala uma última vez e pára no computador em cima do sofá. aperta um pouco a vista e relê tudo o que escreveu até aqui. se estica todo e aperta enter com o dedão do pé.

quinta-feira, novembro 02, 2006





...Mesmo esquema,três poemas.



Lumiada.



Lumiada,quem não viu vem ver.
Venha rápido,mas com cautela quando correr.
Pois lumiada esta aí pra te fazer sorrir.
Nunca lumiada vai querer te ver cair.

Lumiada,ilumia as ilusões.
Reverbera nos diapasões.
Transforma em jardins os alçapões.
E em lindos elefantes os canhões.

Lumiada,de licença vou buscar a minha amada.
-Oh meu bem,ô larga tudo,venha ver a Lumiada!
Por favor saia da frente ó seu moço de chapéu.
Vou convidar a minha amada pra dar uma olhada no céu!
Oh desgraça!
Corta-vida!
Tu abraças minha amada?!

Agora entendo porque pro céu ela não olhava.
Ela olhava nos seus olhos,enquanto lumiava.
Enquanto eu tanto a amava,ela tanto amava outrem.
...
Ela amava tanto,tanto este moço sem cabeça.
Lumiada se esforçava para que a desgraça me esqueça.
Lumiada esplodiu estrelas e matou corpos selestes.
Lumiada empurrou a lua e maribondou por entre minhas vestes.
Êta Lumiada nada disso adiantou.
O diabo do sujeito já beijava o meu amor.

Apesar do céu em festa.
No meu peito trovejou.
Minha alma tava quente...de onde veio tanto calor?
Vem do inferno,vem da mágoa que me flui do meu amor...

Me deixa em paz lumiada.
Deixa este pobre beber.
E ascende meu cigarro que é pr’eu rápido morrer.

Ou então foge enquanto é tempo da tristeza que eu emano.
Lumiada foi-se embora e só volta no outro ano...




Este poema foi apagado.

Todo este poema foi escrito na areia.
Sem o menor medo do mar.
A sombra do poeta,lá do alto vagueia.
Sem o menor medo do amar.

É o graveto que samba gravando sentimentos.
Na praia sedosa da noite que pesa.
Era alguém que ama,salvando tal momento.
Aos olhos da maré,que não liga para a reza.

O poeta dava cada vez mais alma ao poema.
O poema dava cada vez mais alma ao poeta.

Talvez por saber de seu destino de falta de sorte .
O poema deixava-se ser escrito com vigor.
Como alguém que vive intensamente por saber da morte.
A alegria insandescida do poema me chocou.

O vento sabia ventar.
Com gosto de sal.
A lua sabia lumiar.
Valorizando o surreal.

Aos poucos toda a cavalaria se aproximava.
Eram os soldados de Yemanjá.
Atacavam engolindo-se e tudo o que na frente estava.
Vinham querendo dar cabeçada na areia e por final morrer no ar.

Ao sentir a cavalgada chaqualhante e zureta.
Os olhos do poeta se extenderam metade céu metade areia.
Metade papel, metade caneta.

Escrevia com a mão trêmula...os tambores do mar anunciavam o fim.
Não escolhia palavras,as ondas chegavam e logo levariam tim-tim por tim-tim.

Na sua mente só se escreviam palavras de desespero.
Mas com a força de um bom poeta,ele lapidava com esmero.
Riscou,rabiscou na terra este poema que pousa em sua mão.
O graveto quebra na terra,e só aumenta a tensão.

Agora sim! Ele os sente,os respingos vindos pra terra.
Água gelada da noite, onda após onda se comendo feito guerra.
Sente o calafrio do mundo,se arrepia com a presença dos guerreiros gigantes na sua nuca.
Dos seus olhos , se joga uma lágrima...meio torta, suicída e caduca.
A lágrima ao tocar na água que já estava pelo calcanhar.
Encara todas as ondas e as empurra de volta pro mar.
A magia era bela e potente, e ficava difícil de acreditar
Então o poeta escrevia os mais belos versos para que pudesse chorar.
E ao passo que o homem chorava as lágrimas iam pro chão...retardando o ataque das ondas, protegendo da escuridão.
O poeta ficou tão feliz, e resolveu que para o resto da vida ficaria naquela areia
Chorando,escrevendo,salvando sua arte dos soldados da mãe sereia.
...
Mas numa terça de outubro.
O seu olho esquerdo secou.
O círculo branco era rubro.
Mas a inspiração não parou.
...
Mas numa quarta de novembro.
O seu olho direito secou.
Gritou algo que eu não me lembro.
E a maior das ondas se formou.
...
Desesperado o sujeito,abraçou no chão seu poema.
Mas a onda não tinha mas pena.
E veio acumulada.
Gigante,truculenta ,vaidosa indiscreta e abusada.
Passou levando poema,praia,poeta e madrugada.



Mamute no Bistrô.

(O poema deve ser lido com ar de superioridade.)

O sr.distinto entrara no Bistrô.
O sr.distinto com a sua bengala.
O sr.distinto e sua roupa de gala.
O sr.distinto e seu ar borocochô.

O sr.distinto é enterrogado sobre a saúde.
O sr.distinto, se respondeu foi muito do baixinho.
O sr.distinto desperta estranheza no garçom de certo pela sua atitude.
O sr.distinto sofre do garçom a sugestão de um vinho.
...O sr. diz : tinto!

O sr.distinto apenas senta numa mesa.
O sr.distino nunca demonstrou fraqueza.
O sr. distinto com seu fraque azul turquesa.
O sr.distinto encara a luz da vela acesa.

O sr.distinto parecia esperar alguém.
O sr.distinto recepciona as indas e vindas do garçom e de mais ninguém.
O sr.distinto,sempre sobrancelhas pro alto.
O sr.distino,baixo feito sapato sem salto.

O sr.distinto com seus olhos,vigiava o movimento.
O sr.distinto atrás dos distintos óculos se moldava em pensamento.
O sr.distinto lá pelas tantas,sentiu uma criança dos seus pais se separar.
O sr.distinto via a menina aos poucos se aproximar.

O sr.distinto distintamente levou seu olhar pr’outro canto.
O sr.distinto não gostava de criança,elas o enervavam tanto!
O sr.distinto foi atingido por um sorriso e um lindo olhar.
O sr.distinto pigarreia,tosse,tosse,se arrepia e bebe um chá....

O sr.distinto é perguntado se ele gosta de mamutes.
O sr.distinto,beberica e beberica feito um pinto no seu chá.
O sr.distinto é perguntado e leva na canela um chute.
O sr.distinto suando muito,se esforça para a criança espantar.

O sr.distinto ouve da criança que ele parece um mamute.
O sr.distinto não ouvira tal coisa antes.
O sr.distinto nascera magro, e não remete
Nem de longe a um elefante.

O sr.distinto manda a criança ir embora e se espanta com o grosso tom.
O sr.distinto olha pros lados,pra ver se alguém reparou no som.
O sr.distinto se surprende com o tamanho dos estragos.
O sr. distinto com seu grito,rachara todos os pratos.

O sr.distinto era olhado com pavor.
O sr.distinto tenta achar sua gorda carteira para dizer que pode pagar.
O sr. distinto vê vários casais correndo,bagunçando todo o bistrô.
O sr.distinto apenas se sente tombando para o lado fazendo a cadeira quebrar.

O sr.distinto desnorteado de pavor perde toda a pompa.
O sr.distinto ao olhar para baixo,se depara com uma longa tromba.


...

terça-feira, outubro 31, 2006



Saindo do Bigurrilho.


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