A noite e o café frio...
“ Um dia ainda abliquidarei as verdades absolutas e também as abgasosas”
( Rodrigo Arruda)
Meu peito ardia como as dores do cárcere já comum que eu sempre vivi em mim mesmo, a ponta do pé coçava, meus olhos pesavam,e todos pareciam me condenar apesar de estarem dormindo...Todos já dormiam!
Já era noite, o café estava frio, meus olhos cada vez mais cabisbaixos, peito era reflexo d’alma que se mantinha calma, e no fundo de tudo a bobeira acri-doce de ser poeta.
Quando de repente eu noto, para minha grande surpresa...havia sido enganado por minha falta de atenção, e o líquido que eu havia bebido com elegância numa caneca esbelta, quase um púcaro, não era café, era coca-cola.
Achando realmente repulsiva por alguns segundos, a idéia de beber coca-cola na caneca , coisa que eu não fazia desde que tinha 7 anos na casa de minha avó acompanhando um velho brioche que parecia ter rosto, em tempos de infância luminosa, mudei de pose então, pois aquela bebia não merecia a mesma postura que eu fiz questão de moldar para beber algo tão nobre quanto o café.
A segunda reação imediata, foi o completo espanto que tomou conta de mim com esta minha tamanha falta de percepção.
Que palerma que eu não fui...
Num instante eu era alguém que toma café...agora não sou mais, me visita a antiga amiga depressão...
Já era noite, o café não estava frio, pois era coca-cola, meus olhos cada vez mais cabisbaixos, peito era reflexo d’alma, que se mantinha calma, e no fundo de tudo a bobeira acri-doce de ser poeta.
Mudo de idéia de súbito, me ocorre como um impulso, a noção plena de que o café foi tão inventado pela minha cabeça como a sua temperatura e alguns outros dados do poema que escrevo, pondero levando
a mão ao queixo e batendo com o indicador na boca...
Posso concluir que se eu assim desejar, o café terá a temperatura que eu achar por bem.
Já era noite, O café estava sim FRIO!! Meus olhos cada vez mais cabisbaixos, o peito era reflexo d’alma que se mantinha calma,no fundo de tudo a bobeira acri-doce de ser poeta,com meus suspiros saudosos de antigas lembranças ; saudosos das canções que eu gostava em diferentes épocas da vida, de certos
campos que eu corri ,e certas pessoas que correram comigo, do acalanto doce que uma vez provei, e do café frio que eu bebia até pouco...
Agora tudo parece se esclarescer, pelo menos um pouco, pois o que acontece é que eu bem havia notado, que a
temperatura do líquido, apesar de ser ideológicamente inconveniente, já que café normalmente se bebe quente, na prática até que veio mais a calhar do que a catástrofe que era esperada.
Já que ideológicamente,eu bebia café , mas palpávelmente falando, eu bebia coca-cola...que normalmente se convém beber gelada( coisa que aliás não estava).
Atesto então que, prefiro o café mais quente do que estava e a coca-cola, mais fria do que estava.
Mas a grande questão é que o café não estava!
Já que eu bebia a coca-cola, pensando ser café , a coca-cola também não estava!
Já era noite, eu engoli saliva pura! Meus olhos cabisbaixos não enxergavam mais nada que se diferisse de cafés ou coca-colas, e agora salivas também...meu peito espelhava minh’alma que se mantinha calma, e no fundo de tudo a bobeira acri-doce de ser poeta.
O mundo era imperfeito como sempre , mas agora isto era gritante e nada dichavado, visto que se fosse café o que eu acabava de beber, estava frio demais, e se fosse coca-cola, estava quente demais, enfim a substância estava numa temperatura estremamente desfavorável qualquer que seja sua opção
de existência ,café ou coca-cola,...acredito que deveria ser uns 14 graus celsius, não sei bem o por que, mas esta não é uma das coisas que têm por que, é apenas mais um daqueles palpites que se sente, e aliás eu nunca fui muito com a cara deste número mesmo, quatorze...ou catorze.
Assumindo o lado mais racional da questão, que é como eu vou contar esta história para meus amigos, eu bato o pé com força para assumir que era coca-cola e estava quente demais!
Já era noite, a COCA-COLA estava QUENTE DEMAIS, meus olhos pesavam 14, minto, 15 kilos cada um, e o meu peito espelhava minh’alma que se mantinha calma, e no fundo de tudo a bobeira acri-doce de ser poeta que bebe coca-cola e não café...
Com a cabeça pendendo para o lado esquerdo, eu me pergunto.
Que raio de poeta bebe coca-cola?!
E o pior ainda, quente??!
Confesso que já vi sim, algumas meia-dúzia de poetas bebendo café, ainda que ninguém o bebesse frio...
Que raio de poeta bebe coca-cola quente pensando que é café frio?!
Nunca me foi contado que
Vinícius de Moraes ou Machado de Assis bebessem coca-cola,ainda mais quente, ainda mais pensando que era café frio!
Por mais poemas que eu escreva, fica aqui provado; não sou poeta !
Já era manhã eu bebia coca-cola quente pensando ser café frio, meus olhos eram de gente normal que chora, e exercia este papel, assim como meu peito que era reflexo d’alma d’alguém que bebe café sabendo o que está fazendo, no fundo de tudo... a saudade de todas as bobeiras do mundo.
Fim.