quinta-feira, outubro 19, 2006






O bruxo

“´ É claro que a vida é boa
E a alegria,a única indizível emoção
É claro que eu te acho linda
E em ti bendigo o amor das coisas simples
É claro que eu te amo
E tenho tudo para ser feliz.

Mas acontece que eu sou triste... “
( Vinícius de Moraes/Dialética.)


Um urro dolorido forte como o de uma pantera gigantesca negra e mordaz saia debaixo da pedra onde o bruxo morava, naquela manhã o velho amaldiçoava todo o mundo com os olhos marejados como os olhos de qualquer desgraçado...
Amaldiçoava as flores por fazê-lo pensar que amar era algo bom.
Cuspia nos aldeões que passavam respirando esperança,a esperança que o alimentou tanto tempo e vice-versa....o bruxo rasgou sua roupa verde, só se vestia de preto agora pra frente.
O mago tinha mãos trêmulas e pernas mancas como castigo divino.
Amaldiçoava a lua que sempre lhe brilhava instigando-o a fulgurar a luz de seu coração que até ontem era bom...
Até perder para sempre sua pedra de luz para um qualquer-nota que mesmo sem o bruxo conhecê-lo sabia não ser digno,pois pedras com aquela luz só poderiam pertencer á quem sabe limpá-la e cuida-la e ser limpo e ser cuidado por ela..agora o bruxo não mais podia se limpar...vivia sujo, barba enorme com cogumelos dependurados, não queria mais fazer feitiços só encarava á todos por debaixo das grossas e violentas sobrancelhas que diziam apenas odiar a todos...

O bruxo pulara no mar e matara 23 cavalos marinhos só com sua presença...não os comera, os matou pela beleza deles, nada que era muito belo merecia viver...
Ao sair do mar, o bruxo atravessou a ponte, ao cruzar com uma velha atirou-a na enorme queda que diziam uns não ter fim,o bruxo não queria mesmo que tivesse...

O bruxo amaldiçoou as montanhas por serem maiores que ele.
Amaldiçoou o vento,por carregar o clima de amor do vilarejo até perto da pedra onde vivia.
E lá pelas quatro da tarde, o bruxo entendera assim descobrindo que não tinha mais coração, abrira tanto o seu peito deixando que tanta gente entrasse, que alguns levaram alguns pedaços como souveniers, dera tanto amor a tanta gente que jogou aos sete ventos como cinzas de algo que tinha que ir embora.
Percebeu também, que seu o toco que tinha no peito duraria alguns poucos momentos, pensou em botar fogo em toda a sua roupa até que virasse bola de fogo encandescente...mas achou que seria demorado demais,não dolorido já que seu peito havia secado e não sentia mais dor,dedicou então as suas últimas horas a amaldiçoar,chingar e resmungar com pedras, sóis,duendes, espíritos,gramas,miligramas,lembranças boas,lembranças ruins...sabia que a pedra apesar de agora estando com um brilho falso que todos até ela mesma no fundo,sabia que acabaria dali há uns tempos nunca racharia pois era feita de um material forte...diferente do mago...que definhava, chingando e cuspindo e trincando os dentes de madeira com o extremo de ódio quando já sem voz seu corpo se transformava em deserto, virava algo seco...o mago que até ontem era bom,e fora roubado ,parecia agora ser levado pelo vento pela carcaça de uma arvore velha e troncuda que tinha um simbolo amoroso e o nome de duas pessoas que provavelmente já sofreram por amar umas as outras, ou uma a outra...

3 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

...Porque Bruxos não pedem desculpas.

6:30 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Muito, muito bom.

11:50 PM  
Blogger cris braga disse...

É Rodrigo, bruxos deveriam pedir desculpas...hahahahaha!Muito bom. Adorei! beijos

7:04 AM  

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