sábado, outubro 28, 2006






Ela fala o tempo

todo que está estudando os sesquipedálicos, mas eu não sei que animais são esses e ela me acusa de não prestar atenção no que ela diz. Mesmo assim, o que ela diz se perde entre as xícaras enquanto eu olho pela janela. A empregada está sentada no jardim, esfregando sabão para tirar a mancha de sangue do lençol. Venta um pouco e as roupas no varal panejam. O cabelo da empregada volta e meia entra na sua boca e a irrita. Ela se debruça para esfregar com mais força o lençol. Volto a olhar para dentro, onde ela continua a contar que um sesquipedal tem pés longos e é difícil de achar. Acho difícil de acreditar que ela sangre. Faço duas ou três perguntas genéricas que poderiam ter sido aplicadas a qualquer disciplina conhecida pelo homem e me sinto seguro bebendo café. A ventania lá fora aumenta e eu volto a observar a empregada, agora pendurando o lençol no varal com dificuldade. Seu uniforme levanta no vento e eu vejo até onde as suas pernas vão. Ela levanta da mesa e me pergunta alguma coisa. Respondo que sim, claro. Me levanto também e jogo o resto do café na pia. Tenho que levá-la na estação para pegar o trem das cinco. Pego a chaves e a carteira e caminho para o portão da garagem. Olhando para o lençol uma ultima vez, vejo que a empregada não conseguiu limpar a mancha completamente. Apesar de um certo sentido, a comparação com um mapa é irrelevante e ela certamente não concordaria. Mesmo menstruada ela não tem gosto de nada. Temos tempo, são quatro e vinte.

1 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Muito bom !!
E o da semana passada tb,mas não consegui comentar a tempo.
Bela desconstrução.
Mesmo não "entendendo muito de Literatura"....
Parabéns !

1:42 PM  

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