sexta-feira, agosto 18, 2006





O Terrível conto de Viana


A lua parecia mais uma explosão , Viana parecia mais uma explosão por si só...
Aparentemente, não tinha corpo, o enorme resto de carne que tinha pendurado em sua alma era realmente temente á gravidade e a cada vez mais, podia sentir e queria não fazê-lo.
Não estava exausto... era exausto já a um longo tempo, sua coluna se envergava, contorcia e ás vezes dava chicotadas em suas costas tentando motivá-lo a trabalhar.
Estava em seu primeiro ano ali, e não estava gostando.
O escritório parecia muito pequeno, e realmente era.
Viana só gostava como se fosse sonho, da hora em que voltava para casa, e aquela era uma daquelas horas, podia voltar para casa agora sob aquela lua explodida.
Pegou seus pertences, colocou numa mochila velha e lançou em suas costas,que doiam.
Todas as pessoas respeitáveis daquela empresa respeitável usavam maletas, Viana apesar de ser respeitável , preferia usar sua mochila verde e ser coringa.
Admirava a noite desde os tempos de jovem onde a mesma simbolizava liberdade.
Mas já hoje não, hoje ela simbolizava liberdade!
O ônibus tremia, como desafiando suas vertebras a não estalarem, mas a vontade delas era tamanha, que não haveria trem que as fizesse desistir de se realizar numa trectrecagem emudecida pelas rajadas de velocidade que o ônibus lançava na noite.
No ônibus, já não havia ninguém, a não ser um sujeito estranho no banco de trás de Viana.
O vento da madrugada, parecia gostoso e seus olhos semi-cerravam por causa dele e das pueiras que as ruas do centro da cidade do Rio de janeiro pareciam conservar com esmero desde o período regencial.
Uma curva, e o sujeito estranho de trás dele se levanta, como que para mostrar que não era tão estranho assim, e o prova com sucesso era só um cara normal , tinha vitiligo e estava torto devido a curva brusca que o ônibus acabara de executar, apesar de normal, não devia ser um cara lá muito inteligente pra se levantar numa curva daquelas.
O ônibus vai diminuindo a velocidade e a noite fica mais quieta, uns mendigos dormem sonhando em se tornarem bêbados, e alguns bêbados gritam um pouco antes de dormirem nas calçadas, se transformando em mendigos que realizaram seus sonhos.
O sujeito estranho desceu do ônibus , que segue agora apenas com Viana e o motorista, era um daqueles ônibus pequenos que não usam cobradores.
Aos poucos, Viana ia percebendo seu apartamento correndo em sua direção, levantou-se e puxou a corda , o coração do motorista devia ter apertado um pouco de solidão e abandono, mas não demonstrou isso e com excesso de profissionalismo, abriu a porta e foi um adeus.
Assim que Viana aterrissou, percebeu o quanto que a gravidade pesava , se se arrastar fosse algo saudável e comum, Viana se arrastaria, pois sempre fora um cara saudável e comum.
Abriu a porta , fechou e foi para seu quarto, deitou-se na cama e sumiu.
Sonhou e sonhou durante algumas poucas horas que pareciam minutos... até que o telefone tocou!!

Suas palpebras sem abrir deram uma pequena reclamada na base do olho, seus braços e mãos fizeram o trabalho sujo de atender o crápula que assassinara seu sonho.

- Alô!

Viana apenas geme algo de volta impaciente, não tem tempo...ainda há tanto a ser sonhado.

- Delgado Viana?

Outro gemido impaciente, agora com os olhos se abrindo.

- Senhor Delgado,o senhor esqueceu alguns dos seus pertences aqui agora pouco, o senhor vem buscar agora,ou é melhor deixar pra lá já que é coisa tão pequena?

Viana basicamente não estava vivo, era por si um estorvo e o esforço que fazia para se manter conscio era digno de aplausos.
Fosse lá onde fosse , ele não iria mesmo levantar da cama para buscar algo pequeno, concorda que o tal pertence fique sobre os cuidados da tal senhora e apenas desaba achando engraçado a mulher ter uma voz que carregava um forte sotaque russo ou alemão ...ele ri , leva sua mão até a base do telefone novamente e de tanto sono que estava, através de seus olhos semi-cerrados, Viana acha alguma coisa estranha na ponta de seus dedos que agora eram um pouco mais frios ou ventilados...algo parecido.
Se entrega ainda embalado pela ressonância do som daquela voz em sua cabeça...

Telefone!!

Parecia mais um trovão!
Viana o leva até a orelha tranquilamente, se sentindo menos pesado do que sempre se sentiu.

- Delgado Viana? Aqui é do consulado...

Viana não entende.

-O consulado da Russia, Delgado Viana aqui de onde o senhor acabou de sair...eu estou ligando só pra avisar que suas é ...como vou dizer suas Gentz...você deixou seu par de Gentz aqui...o senhor vem buscá-lo?

Viana, realmente não entende e se senta.

E se o objetivo desta movimentação foi fazê-lo entender melhor a situação...o efeito foi contrário pois ao tentar se levantar, algo realmente inesperado o cerca...

Viana vai ao chão .
Viana está sem as suas duas pernas!

...

O corpo no chão de cócoras.

Algumas horas passam e uma nova ligação...mas desta vez Viana não pode atender, pois não estava mais lá...a secretária eletrônica apenas exalava o seguinte recado:

- Senhor Delgado Viana, o senhor apenas precisa tomar cuidado pra quando for mergulhar nos seus sonhos para pegar de volta seus pertences...ou você pode acabar se perdendo por lá...abraços Clémer do Balão de Gás!

Fim

1 Comentários:

Blogger cris braga disse...

Parabéns! Beijos!

6:35 PM  

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