
The Cat From Illinöis
And
The Dog From Idaho
"Aos 16 anos matei meu professor de lógica, invocando a legítima defesa – e qual defesa seria mais legítima?—
logrei ser absorvido por cinco votos contra dois, e fui morar sob uma ponte do
Sena, embora nunca tenha estado em Paris.”“
( Campos de Carvalho / A Lua Vem da Ásia )
…E mais de milhões de navalhas pararam,cancelando a atividade de todos os suicidas,que naquele momento desistiam de se desistir…
Na sala de aula, uma garota lia a Carta Capital, nenhum dos suicídas era dado aos jogos de azar, apesar de todos apresentarem o perfil perfeito de viciados em sueca.
Um cachorro expelira a última gota de seu mijo, o Sol não fazia barulho e uma série de folhas desmaiaram na calçada que abrigava o colégio, o antigo colégio, onde aparentemente toda a família de Olavo estudara.
Que era o mesmo colégio o qual entre diversas e diversas salas , escolhera apenas uma para ter uma menina que lia a Carta Capital, e essa sortuda escolhida , era uma das salas que vizinhavam por sua vez a sala onde Olavo a pouco dormia com o nariz pressionando o seu caderno onde jaziam apenas: um título de alguma daquelas matérias ligadas as matemáticas, um começo de algum desenho engraçado e sua caneta em repouso tombada levemente rolando por cima de uma letra A.
Seu professor ao fim da aula, muito provavelmente se uniria a seus semelhantes, os suicidas ,e provavelmente teria desistido no mesmo momento em que todos os outros(sem exceção)desistiram, cancelando suas mortes e ou fraturas sérias e graves.
O mesmíssimo momento era aquele em que o cachorro concluiu sua mijada, o Sol se calara e as folhas lambiam o vento até o mergulho final de peito no chão,o exato mesmo momento, e não me refiro a definições previamente estipuladas como segundos, milésimos de segundos, ou qualquer outra coisa que se ache por bem atrelar aos segundos...me refiro a momento, exato momento.
O professor apenas compartilharia este momento usando modos tradicionais de suicídio, se não estivesse ocupado naquele momento com modos modernos de genocídio e com isto,me refiro a conclusão de sua explicação sobre eletricidade.
Foi também, talvez coincidentemente, neste mesmo momento tão supracitado que Olavo acordou...
Foi lento, porém definitivo para o resto do dia, a sua abrida de olhos gloriosa, foi mais um daqueles acontecimentos de enorme relevancia que só engordaram aquele momento já bem parrudo de acontecimentos de enorme relevancia.
Todavia, Olavo não demonstrava muito interesse na maravilha que foi, ele ter acordado, talvez por nunca antes ter se importado com isso, e nem sentir falta nos dias em que não estava.
Não se importara mesmo, nem Olavo, nem a menina da Carta Capital, que apesar de estar na sala ao lado, e por isso não poder ver Olavo, ou do simples fato de não conheçe-lo, poderia ter ao menos demonstrado um pouco de complascencia quanto ao estado de um companheiro de escola...acordado.
O exato oposto, se deu estranhamente...
De alguma forma,os milhões de suicidas puderam sentir a beleza sepucral que o despertar de Olavo exalava, e apenas por isso não deram cabo de suas vidas, olharam para noroeste, pigarrearam e voltaram a viver costumeiramente.
Alguém voltava do banheiro.
Não fechou a porta.
Conservava a tese de que o caráter de uma pessoa, pode ser medido apartir do momento em que ela entra e fecha ou não a porta...
A menina não havia fechado.
Usava uma camisa em que havia um desenho bem colorido de um cão e um gato, e algumas escritas acima com letras garrafais,coisas que Olavo supunha ser inglês, nunca soubera nada de inglês ou se importara com isso.
E a porta aberta.
A menina se sentou numa das fileiras bem na frente, aos risos...talvez ria da grande sacanagem que havia aprontado contra seu caráter desregulando a arrumação da sala.
Um pirilampo adentrou o recinto.
( Ninguém nota)
Olavo não consegue se concentrar nas palavras pobres em animação, mas ricas em conteúdo pobre ,de seu professor e enquanto isso a menina continua sua conversa com a amiga...como pode alguém ser tão abusado?
Já pode sentir o vento frio congelando suas pernas, ouve pedaços de todas as conversas do mundo lá de fora...Olavo tosse alto, para ver se pelo menos assim ela se comove e pensa em fechar a porta...mas nada!
Uma ema adentrou o recinto.
( o professor a nota enquanto sai de sala, e a deseja boa tarde enquanto sai.)
Oras! Por que foi acordar?!
Se dormindo, não tinha encômodos, era rígido como uma escrevaninha, nada poderia lhe acordar a não ser que chegasse a sua hora de fazê-lo.
E ela realmente chegara...tão cedo!
Como gostaria de dormir mais...tinha algumas duquesas mais para visitar e compartilhar chás.
Nunca compreendeu direito como funcionava esta história de acordar.
Acordava como vindo de um vacuo, uma expulsão , uma censura, era como se fosse uma demonstração da vida que ele poderia ter.
Uma pequena amostra grátis...
E num instante não determinado por ele antes de dormir, ele acorda, geralmente após 8 horas de puro gozo.
8 horas apenas...uma vida com esta duração?
Um cangaceiro adentrou o recinto.
( Da poucos passos, e diante da bagunça sai intimidado)
Mas já havia tido esta discução antes e percebido que se o sonho não tivesse duração, não seria sonho, seria vida real que nada mais é que a mesma coisa.
Sendo assim, os suicidas nada mais são, do que pessoas que não conseguem esperar pelo fim das 8 horas.
Um vendedor de Barômetros adentrou o recinto.
( Sentou-se numa das cadeiras ao fundo)
Impaciência tem seus limites, pensou.
Um patinador de gelo adentrou o recinto.
( Olavo nunca patinou no gelo)
O ato de pensar difere os seres humanos dos seres humanos.
E o ato de fechar as portas também...!
Pensa Olavo!
“O sonho de todo hábito é tornar-se vício e o sonho de todo vício é ser considerado virtude, e toda a virtude, ta de saco cheio de toda esta hierarquia.”
Esta frase se encontrava no seu caderno, e embaixo alguém o pedia que pensasse nisso...Olavo nem isso conseguia, estava ocupado demais se encomodando com a história da porta... que continuava aberta!
O seguinte professor adentrou o recinto.
( Não fechou a porta)
Não fechou a porta!
Como seria aquilo possível?
Não havia respeito por nada ou ninguém neste mundo?
Sua carne da testa, se franzia tanto, que a qualquer momento poderia torcer toda a face de Olavo.
Não podia confiar nas palavras de um qualquer que não fecha portas, que os destina ao frio covarde que estabelece tremedeira até na aura!
Iria gritar, mas teria que arcar com as consequências...na sala, o mesmo mesclado de oitocentas conversas diferentes vindas de 35 bocas, não iria mais ficar ali, não naquele ambiente, nem com aquele sujeito mesquinho.
Então ergue o corpo e o braço para pedir permição para ir ao banheiro.
Pede, mas não tem certeza se sua voz realmente saiu da garganta, ou se do fígado...se foi do fígado, esperando que tenha sido mesmo assim ouvido, Olavo se levanta, esbarra na pata esquerda da ema, que faz o barulho que as emas fazem, pede desculpas e corre para sair daquele lugar o mais rápido possível.
O ar livre, cheirava a pipoca, pois Gildo o pipoqueiro estava em ação na frente do colégio.
Os monitores conversavam, o vento parecia bom de lá de fora, o clima decididamente confortante...como respirou fundo!
Refrescou-se ao bebedouro, e só pensava em esquecer a sala de aula e a porta
...que ele deixou aberta!
Ao notar.
Todos os seus pêlos se eriçaram, principalmente os das costas, o pescoço endureceu, suas mãos se fecharam agressivamente.
Uma baiana adentrava pela porta, o recinto.
( Porta que ele mesmo deixou aberta)
Passos lancinados e comedores de tempo, eram lançados por Olavo em quaisquer que fossem as direções pelo colégio.
Não era possível!
Logo ele, deixara a porta aberta, e deixara que uma baiana.( e um testemunha de geová um pouco mais tarde) adentrarem o recinto...
Deixou tudo escancarado! era pior do que todos os outros que haviam deixado a porta aberta, e o pior ...não há mais nada para se fazer..agora é tarde, já havia deixado a porta aberta..mesmo se fechasse-a, Olavo seria apenas o sujeto que deixou a porta aberta e depois feichou-a, sendo ainda o sujeito que deixou a porta aberta!
Onde estava toda a educação que recebera?
Sentia que seus escrúpulos haviam sido comidos...
O sujeito que deixou a porta aberta?!
Que sina maldita!
Sem rumo, cambaleante e chorão, bateu com as costas na sala dos professores, onde o seu professor de física de fala lenta e deprimente que embalara seu divino sono ha pouco tempo( como queria estar dormindo!), perguntou o por que de estar chorando daquela forma desesperadora, e foi até a cozinha buscar-lhe um copo de água com açucar.
Ao ir a cozinha, o sujeito esbarrou em sua pasta que estava encima de uma mesa, mas na pressa nem recolheu nada...
No chão cai, seu instrumento de suicída...sua navalha!
Olavo, não pensa mais de uma vez...pois se tivesse pensado corria o risco de no futuro se parecer com um grande jogador de sueca, por desistir de fazer o que fez!!...que foi não esperar pelo fim de suas 8 horas.
Sangue no chão.
No exato momento em que Olavo fez o que fez, todos os suicidas sentiram um forte sono e se puseram a dormir, tanto os que tinham a cama por perto quanto os que improvisaram uma...
Todos ( sem exceção)incluindo o professor de física, que não voltou para a sala dos professores pois teve uma espécie de mal presságio, este apenas olhou para noroeste, pigarreou e voltou a viver costumeiramente.
Tudo num exato momento,e não me refiro a convenções preveamente estipuladas como: segundos,milésimos de segundo ou qualquer outra coisa que se ache por bem atrelar aos segundos.
O Sol, gritava neste exato momento.
O cão começava a mijar neste exato momento.
Nasciam novas folhas nas árvores nesse exato momento.
E uma garota chegava na última página da Carta Capital.
Fim
...disse ela.
Fim.
5 Comentários:
Foda! Como sempre!
Concordo com o anônimo!
;D
muito grande nao li mas vc eh sempre sencasional entao concordo com os dois aqui decima.
uma idéia fantástica. só achei mal escrito. "Encima da mesa" mostra que não revisou. Muito bom! gostei
Púcaro!
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