
SOBRE ROMA OU O AMOR AO CONTRÁRIO....
Nunca ele tinha visto uma mulher tomando um café com brioches com tanta concentração, não olhava nunca pra frente ou pros lados, mas apenas para a xícara, como se quiesesse assegurar que o líquido não fugiria pra lugar algum. Por várias vezes tentou um contato visual. Por mais que ela fosse linda, naquele momento ele só queria saber o porquê daquele comportamento, mais que flerte, tinha virado uma curiosidade.
Ela reparou quando ele entrou no Bar. Se culpou imensamente de ter virado a cabeça na hora em que escutou o sininho da porta, sua observação já conhecida havia captado tudo em apenas uma fuga de olhar... Rosto fino, barba por fazer, cabelos loiros ajeitadinhos apesar da chuva, olhos azuis... Italiano ele não era, não tinha o tom de pele. Inglês! Inglês com certeza... Passou direto com seu sobretudo molhado e sentou no canto. O alívio só veio quando o café chegou, assim ela podia se concentrar em outra coisa... Não podia acontecer de novo... "Por Favor"
Ele a tinha avistado do outro lado da rua, seu gosto de homem adorou descobrir uma mulher diferente. Seu gosto de poeta achou lindo o rosto daquela menina distraída. Seu gosto de pintor achou fantástico aquele rosto por trás de um vidro, onde a água escorria sem parar. O jeito era entrar no Bar, onde estava nunca seria visto debaixo da chuva. Aquele incômodo visual o deixou tenso... Ela poderia ter visto alguém chato, com quem não quer falar. Será? Não... O namorado, com quem ela acabara de ter uma briga, saiu para procurá-la e ela entrou nesse lugar para esconder-se. O que afinal? Não sabia, mas tinha que saber. Levantou-se.
O embrulho no estômago aumentou quando viu que ele se levantara... Ela não conseguia mais tomar o café, mas mesmo assim não tirou os olhos dele e a xícara de perto da boca, quando viu que ele se aproximava, apertou os olhos e os manteve assim. "Olá, posso me sentar?" em italiano "britânico". Sabia! Era inglês. Os olhos continuaram cerrados, a cara virada pra xícara. "Você está bem?". É óbvio que não, ele não está vendo? Sentou-se, não viu mas escutou o barulho da cadeira e uma leve tremida na mesa. "Ei". Foi o fim da barreira...
Olá, posso me sentar? Sem Resposta. "Você está bem?" Sem Resposta. "Ei" e colocou com uma intimidade vinda sabe-se lá de onde as costas dos dedos em suas bochechas... Ela sentiu calafrio. Ele hesitou. Ela olhou no olho. Ele também. Ela encarou. Ele fugiu com o olhar. Ela não optou pelo Italiano "brasileiro", pois sabia falar um Inglês "britânico".
"Eu não quero."
"O que?"
"Isso."
"O que?"
"Que está acontecendo."
"O quê?"
"Você é sonso?"
"Por quê?"
Ela ameaçou levantar, um tanto quanto indignada.
"Fica..."
"Por quê?"
"Pra você me explicar."
"O que?"
"Isso."
"O que?"
"Agora é você que está fazendo..."
"O que?"
Os dois se olharam profundamente durante uns três segundos. Se beijaram.
Mais tarde, na cama do hotel de um dos dois, ela acorda sendo observada... Ele, sentado como haveria de se sentar um inglês naquela cadeira junto à janela, a observava encantado. A pele morena era incomum em todo aquele continente, ele ainda não tinha perguntado de onde ela era... Nem o nome... Ela não sabia o seu nome... Os dois não sabiam de nada, ele só queria a observar naquele momento em que nua, seu contorno era azul, graças à lua que vinha de fora. Ela encarou ainda sonada a silhueta daquele homem. Não sabia seu nome e por isso resolveu pergun...
"Robert"
"Janaína"
Alguns segundos de silêncio...
"England."
"Eu sei."
"What?"
"I Know..."
"You?"
"Brasil"
Ele era jovem. Costumava viver uma vida de pubs, arte e mulheres até aquela noite. Ele não conseguia parar de observá-la. Só de cabeça já tinha escrito diversas poesias, se tivesse à mão algumas ferramentas não teria dúvida de ter encontrado a musa de seus próximos trabalhos... Ele a queria muito mais do que tudo. Era ela. Ele não sabia o porquê. Naquele momento "Janaína" e "Brasil" eram as palavras e informações de que ele precisava... Voltou à cama. Seus braços a envolveram como quem queria repetir tudo aquilo que já fora feito, pelos menos umas 3 vezes naquela tarde... Em sua cabeça ele já tinha planos, queria levá-la consigo pra sua cidade...
Ela era jovem. Era a sétima vez que sem explicação ela se apaixonara por um desconhecido em Roma, todas frustradas. Ela notou que era observada com carinho e um charme inglês irrestível. Em sua cabeça ela se confundia com todas as experiências, mas essa era diferente... Ela o queria mais que tudo. Talvez fosse ele. Ela não sabia o porquê. Naquele momento "Roma" e "Amor" eram as palavras que em qualquer direção não combinavam em sua cabeça. Percebeu Robert se levantando. Ganhou um abraço forte, do jeito que precisava para ter vontade de repetir tudo aquilo que já fora feito, umas 7 ou 8 vezes naquela tarde... Em sua cabeça ela já tinha planos, iria até para sua cidade, contanto que não se chamasse "Evol".
2 Comentários:
Nada como uma história de amor. Gostei muito.
Tomei um susto quando vi o título, eu costumo dizer que eu sou o amor ao contrário. Mesmo não entendendo o que isso realmente significa dentro de mim.
Beijo, Romã.
Me senti em Roma! Gostei da história, passou bem o clima.
Bjos
Postar um comentário
<< Home