
Quando Werner nasceu, no mesmo quarto acontecia um parto espetacular. Era o primeiro parto de sétuplos do mundo e a mãe dos bebês havia convidado todas as emissoras do país a televisionarem o recorde. No mesmo momento em que todas as câmeras focalizavam a grávida recordista, nascia, ao fundo do quarto, Werner. Assim, pode-se dizer que Werner já nasceu figurante.
Depois, quando pequeno, na escola, Werner estava sempre no meio da massa de alunos, jamais se fazendo notar. Quando tentava dizer algo, todos o reprimiam e o mandavam ir para o fundo. Aliás, uma coisa que Werner logo descobriu é que ele estava sempre no fundo. Quando ele por acaso se sentava na frente da sala, era no fundo que as coisas ocorriam, fazendo com que ele se sentisse no fundo em relação àqueles que lá estavam. Por mais que tentasse, Werner nunca era o centro das atenções. Se ele por acaso resolvesse fazer uma loucura, como vestir um maiô e dançar cancan, quando ele olhava à sua volta todos estavam fazendo o mesmo há muito tempo e ele estava apenas imitando a multidão dançante.
Quanto à sua aparência, não se pode dizer que ele era bonito. No entanto, nada nele desagradava ao olhar. Possuía os olhos no lugar, um nariz perfeitamente normal e o cabelo como qualquer outro. Se até hoje não se falou muito em Werner, é só porque ninguém se lembrava dele, embora ele tenha participado da vida de muita gente, sempre passando ao fundo e dando um colorido especial à cena. Um homem perfeito para se ter na vizinhança.
Sua vida no entanto não era um marasmo. Muito pelo contrário. Ao seu lado sempre aconteciam as coisas mais fantásticas. Bastava ele andar na rua para que prédios pegassem fogo, super-heróis aparecessem e pessoas fossem abduzidas. No entanto tais coisas não aconteciam jamais com ele, que apenas observava perplexo e conversava com as pessoas ao seu lado (sem no entanto emitir som, é claro).
Aos 63 anos, Werner morreu. Ou melhor, foi demitido: olhou para a câmera.
13 Comentários:
Hahah me divirto com seus textos, Gregório, são engraçados.
Tá bem legal! Bjs.
Adorei Greg!!
Beijooo ;]
Suzana Werner???
ADOREI, Greg!!!!!
Me lembrou "Trumam"... (dãrn)
Beijokasssssss
mt foda, cara...virou um dos meus favoritos, junto com o do cara que envelhece ao contrario.
Abraco grande
Gabriel
Gregório,
Sempre fui leitora e fã e agora tenho que estar à altura das quintas feiras...beijos
Cris
...Ah meu preto!
Fantábuloso.
...e só.
Só hj pude ler. Amei!Arrasou! beijos Cris
Sobre o post da semana passada. Li isso e achei que tinha a ver.
"Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo." - Clarice Lispector
Quem escreveu o comentário acima? Adorei e queria saber a referência...
Puxa,Gregorio,adorei !!!
Como sempre,vc excelente.
Parabéns !
As 5as. são de arrasar.
nooossa, MUITO bom!
adorei!
saudades daqui(do Rio e do blog, voltei hoje!)
beeeijos
Gregório, fui eu. Júlia, amiga do marcelo.
haha descobri esse site e passei a ler, mas não gosto de comentar nunca.
só to escrevendo pq vc perguntou
e a referência, eu nem lembro. Li em um site há muito tempo e guardei, quando li sua coluna achei que tinha a ver. A Clarice tem textos ótimos
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