sexta-feira, maio 19, 2006



O propriamente dito (uma novela em 3 atos)

Terceiro Ato: A Dança de Anúncio dos Escombros Insalúbres


“...Que Sol! Que céu azul!que doce n’alva
Acorda a natureza mais louçã!
Não me batera tanto amor no peito
Se eu morresse amanhã!”
( Álvares de Azevedo)


Dizem que de certos lugares não se pode ver a chuva...
Frase esta que eu duvido muito, pois quando chove em algum lugar, todos chovem juntos ,plantas,animais, casas, enfim, tudo chove.
E se há mesmo no mundo da chuva lugar onde não se possa vê-la, esse lugar não era e nunca será a igreja.
A igreja ecoava chuva, transpirando cada vez mais, as gotas mesmo, que fixas em seu nascimento pesavam carrancudas ao se estabacarem em seus degraus de pedra, naquela tarde, tudo era chuva.

Um corpo dono de uma sombra enorme e ensopada, pingava triste desamparada, de joelhos e testa encostada no encosto da cadeira da frente. Se chamava Jacinto, fora demitido por causa de um acidente com uma pessoa pela qual mantinha um sentimento muito forte.
Era dado as filosofias e aos livros nunca a igreja entretanto era um momento de desespero, estômago apertado e labios desidratados.
Neste momento tinha que estar em casa para ver como estava sua mãe que acabava de ser assaltada.

Acima de qualquer outra descrição, era uma igreja carioca e singela, plácida como um refugio da movimentaçao exacerbada da vida no Rio, o Rio, o Rio e seus bordoes, o Rio e seus alçapões, o Rio e seus ladroes. Aigreja era uma boca, Jacinto era saliva, saliva apaixonada e inquieta ... uma baba.

Sim, inesperadamente Jacinto estava apaixonado, apaixonado pela sorte e pela vida, pois se encontrava num momento de extrema perda, tanto de uma quanto d’outra.

Num canto da igreja estavam uma senhora recém enviuvada e seu filho recém orfão que pela animaçao nao pareceia se encaixar nesta descriçao. O pequeno garoto arrancava sons de percussão descabidos apartir dos bancos ocos e lisos da igreja pois já que beneficiados pela acustica da construção, compunham uma musica chuvosa, o som do tédio frustrante da frustação constante do peito de Jacinto, que chegava a ser entediante na opnião das estatuas de madeira que não conseguiam entender Jacinto.

O menino deu um berro e disse que não queria estar ali e a mãe lhe deu um beliscão no braço, entao ele chora.
Jacinto não queria estar ali, sua mente da um berro no escuro, mas como não tem ninguem para lhe beliscar, ele chora...

___ Passos molhados têm um som diferente___

Passos molhados tem um som diferente, e pioram quando apressados, são taps imperfeitos, inacabados e o pior, ecoavam, ecoavam e iam morrer nos ouvidos dos unicos 3 rezantes do interior da boca sacra.

A casa de Deus um doidivana na casa de Deus... normal.
Os passos apressados tinham uma origem como passos sempre têm origens, Tales de Mileto e seus passos fedendo a café e desilusão.
O universitario adentra na igreja e seu peito treme, suas verdades balançam molhadas com a chuva, no meio da confusao de ideias, Tales se decide num surto de incompetencia racional por sacar sua navalia, e sacou.
Olhos com palpebras trêmulas, Tales tinha uma arma, não tinha comando sobre os sentimentos ou da mandibula agitada e infelizmente nem tampouco da sua mulher amada que não sabia seu nome.

Ignorando o fato de ter dinhheiro o suficiente, e tomando por base nada menos do que puro IMPULSO, Tales monta em seus taps imperferfeitos furiuosos. A igreja não se parece com as igrejas de São Paulo, era uma igreja errada. O dia era de chuva ofenciva, não uma garoa de São Paulo, a chuva estava errada. Leila durante toda a sua vida nunca nem soube quem Tales era, mesmo sendo o homem da vida dela, seu principe, porto seguro, a única salvação para a falta de amor, estava errada. Ela envelhecia e ainda assim tentava revidar o encontro com seu amor usando uma navalha! Não poderia estar certo.
O dia estava errado!



Uma navalha no pescoço gordo do gordo ajoelhado ele pede dinheiro, mesmo não querendo ou precisando.
Os dois se levantam vagarosa e cuidadosamenete, a viuva esconde seu filho sobre suas asas, a criança sapateia no ar anarquicamente.

A navalha de Tales é apontada para a abarriga do homenzinho, Tales berra, e bem... a igreja amplifica.

____Jacinto ouviu o sotaque paulista!____

Jacinto ouviu o sotaque paulista, mas se seu dever fosse zelar pela paz da igreja, isso nunca deveria ter acontecido, assim como nunca deveria ter agredido aquele fedelho paulista... e como odiava.

Jacinto se levanta tenso, leva as maos ao bolso retira uma nota de 50 reais e diz:
___ Prefiro morrer do que dar dinheiro a paulista!!

E numa insuficiência de controle demente ele rasga a nota em 6 pedaços, depois em 15, lança aos ceus e ri.

Jacinto era lindo, Jacinto era poeta, Jacinto era poema... e reinava na atmosfera acima de tudo sublime e lunar, que risada gostosa que era a risada do sofredor libertado, era tão boa, que fazia o rir da própria risada... além de preencher o ambiente de uma sensação estranha e um tanto nublada...

Apesar da sensação de Jacinto ser indescritível, a de Tales era o polo oposto então... descritível ; injúria!
Sentia-se picotado.Sentia na sua saliva o sabor de ódio que não daria nunca para se mensurar transformando sua face numa feição bichana e tremelicante.
Tales rugiu como felino que virara e voou como qualquer coisa que voe, guiado pela ponta brilhante da navalha que lamberia a costela sorridente de Jacinto espalhando sangue interrompido nos bancos da igreja ,bancos vermelho-fumegantes...
Mas não foi o que aconteceu, pois o corpo de Tales não parecia saber como sangrar o gordo professor de filosofia.
Mas suas costas pareciam saber como se chocar com a parede e esticar seu braço com navalha e tudo até uma estátua de Santa Cecília, que perde o nariz.

Cecília foi a menina feia que lhe ensinou a dançar quando tinham 10 anos de idade, o passado gostoso dançou em seus olhos com a feiosinha bailarina que era desajeitada e ensinava como uma dama os passos da dança da época, não era bem feia, tinha um nariz que parecia mandar no rosto inteiro e designar para onde a face deveria crescer e era só...não era nenhuma feiura abrupta, e agora, Tales havia arrancado fora o nariz de Cecília...achou engraçado por demais para que contesse o tal silêncio absurdo na igreja e num segundo de bizarra inspiração divina, os dois riram juntos com seus olhos mirando as abóbadas da igreja incompetentes de bom senso.

Era loucura dominando a igreja, a viúva se levanta perplexa, seu filho apesar de parecer muito espantado eu garanto que também gostaria de rir, por uns instantes a mulher quase que embarca na loucura da mesma forma, mas era uma dama e apenas foi embora.

(Silêncio)

Tales:- Está rindo de que?

Jacinto cai de seu alto posto de louco inconsequente ( suas sobrancelhas voltam para o lugar de antes) e volta a ser o mesmo medrota de sempre, sua face era delineada de nanquim borrado que quase se liquefazia, estava apavorado e sob pressão, e sempre que ficava sob pressão desandava a usar palavras difíceis.
Naquele momento ,jacinto tinha apenas um olho ,bem grande no meio da testa, e podia chorar uma quantidade de lágrimas pertinentes a 32 outros olhos de diferentes tamanhos e cores.

Jacinbo;- Bom homem...ria de nós, quero dizer, de mim!...não de vós propriamente dito!

______
_____Propriamente dito!____

Tales havia sido chamado assim, e por nada nesse mundo poderia querer ouvir isto de novo...apertou bem a faca, com tanta força e segurança que ela caiu.
Tão bem quanto ele, que caia ao chão, se inspira em Deus , e chora , borbulha e fervilha ...chora.

E depois de 3 segundos, duas almas fracas e bambas, traídas por sentimentos fortes que nunca antes haviam usado, experimentam como seria ser chuva, eles foram chuva.

Chuva, que corroria a igreja de mágoa calorenta e quase que flicts*.
Como já havia citado , a igreja estava realmente errada, mas talvez naquele momento, mais certa do que jamais fora.

_____Catástrofe_____

Toda a estrutura sacra parece levar uma banda e jogar o peito pra dentro numa autofagia linda !
A igreja se suicidara.
Nem um dos dois viu as rachaduras correndo por todas as paredes, a impressão que os mais superticiosos teriam é de ver os santos explodindo, santa cecília dançando, a dança de anúncio dos escombros insalúbres.

Tudo era escombro incluindo Tales e Jacinto, alguns dizem que a igreja caiu de capenga, outros dizem que foi castigo mas o real motivo, foi que a igreja era um lugar planejado para pessoas elevarem suas almas, mas duas almas chafurdadas de mals momentos choravam juntas, quebrando a atmosfera de paz que mais do que qualquer cimento , mantinha a igreja de pé.

E assim terminou a vida destas almas solitárias tortas e não convexas, dançaram com Santa Cecília, a dança de anúncio dos escombros insalúbres.


Fim.


Flicts* : - Cor inventada por Ziraldo, é uma cor triste e única, é a cor do planeta terra visto da Lua, a cor da Lua vista da lua, e segundo alguns astronomos é a cor do universo.

Fim.

1 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Ótimo final! Trechos lindos!
Esse último inclusive. "E assim terminou a vida destas almas solitárias tortas e não convexas, dançaram com Santa Cecília, a dança de anúncio dos escombros insalúbres."
;*

10:08 AM  

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