segunda-feira, abril 10, 2006



"Quando eu era pequeno queria ter os braços do Arnold Schwarzenegger. Queria ser o Jaspion para salvar o mundo dos monstros gigantes. Adorava os guardas: sempre que via um na rua gritava: “Oi, amigo policial!” Uma vez minha mãe fez um bloquinho e eu saí multando todos os carros do condomínio de sete blocos em que eu morava, no Rocha. Também fez um chequinho uma vez, e o processo foi o mesmo: saí distribuindo cheques pelas mercearias e estabelecimentos, mesmo sem levar nada. Depois quis ser jogador de futebol, passava horas do dia pensando nos rios de dinheiro e nas mulheres que o menino orelhudo iria ter a seus pés. Achava que logarítmo era uma nova dança proveniente da lambada. Eu tinha o meu próprio quarto, minhas coisas, e queria um carrinho de fórmula um. Uma vez vi na TV um “papa-ficha” e pedi: mãe, eu quero um! E não é que de noite ela me trouxe um! Foi a única vez que me fez uma surpresa dessa... Naquela época, brigar com a ela era bem mais simples: me trancava no meu quarto, e de noite, deixava um desenho embaixo da porta dela com duas mãos “cortando de mau”. Quando fazíamos as pazes, desenhava mãos “cortando de bem” . Tenho esses desenhos até hoje. Passava horas desenhando o mar, montanhas e o Batman e Robin. Escrevia cartas de amor com minha péssima caligrafia infantil. Queria ter um irmão. Eu não lembro, mas minha mãe relata que eu dizia estar vendo meu irmão e que até brincava “com ele”, eu tinha dois anos. Minha mãe perdeu um filho antes de mim, e eu nem sabia...Também pensava em me matar. Olhava a janela da sétimo andar e pensava: “vou pular!” Tinha muitos sonhos em que eu acordava quando estava prestes a me espatifar no chão. Pensava em cortar os pulsos também, e já cheguei a pegar uma faca e posiciona-la para tal. Quando eu era pequeno, perguntava pra minha mãe o que eu estava fazendo dentro daquele corpo, não entendia como eu tinha ido parar ali.

Depois a gente cresce."

Raoni Seixas - março de 2005

4 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Depois a gente cresce e depois a gente cresce.

2:08 PM  
Blogger meu nome é meu disse...

depois a gente cresce e por isso podemos nos tornar pequenos, não é?
quando voce era pequeno, porque voce já é grande - e voce é grande?
quão grande o senhor é?
o senhor é crescido?
quão crescido o senhor é?
no seu pequeno tem a inocencia, naquele "falcão" não tem mais. Voce era inocente, voce se escreveu inocente, o seu modo de escrita é inocente e depois?
voce continua crescendo?

9:10 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Parabéns! Adorei! Vou virar leitora diária. Seu estilo é ótimo.

Cris Sauma

10:42 AM  
Anonymous Anônimo disse...

Segunda semana e você continua sendo o meu favorito. Adorei!
Quando se é pequeno pensamos muitas coisas, quando crescemos continuamos a pensar muitas coisas da mesma forma...

5:56 PM  

Postar um comentário

<< Home



Web Counter