MARCELO ADNET - COLUNA LIVRE ARBÍTRIO
(Por motivos de força maior Adnet ainda nã ganhou u header, mas semana que vem...
QUINTA À NOITE EM CAMPOS DOS GOYTACAZES
Noite de quinta em Campos dos Goytacazes. Que tédio é uma quinta quente e escura em Campos dos Goytacazes! Não só as noites de quinta, mas também os domingos nublados, as terças de chuva e as quartas de sol. Tudo é melancolia em Campos dos Goytacazes. E vejam – não é qualquer campo – é o dos Goytacazes! Não é um campo grande, mourão, São José dos Campos, ou do Jordão. É dos Goytacazes. Índios nadadores e canibais com cabelos longos, raspados na parte central da cabeça. Com o povo de hoje, a única semelhança é a feiúra. Os goytacazes já não comem mais seus semelhantes. Comem coxinha de frango desfiado com catupiry, miojo instantâneo, esfirra e pra hidratar bebem Cintra ou Hula Hula.
Na Praça Central há uma pequena aglomeração de jovens feios, embriagados e morenos, que carregam instrumentos de percussão, cornetas, bolas de encher, Cintra e Hula Hula. E aqui está o motivo de minha viagem a este antro infecto: o estádio Godofredo Cruz. Não sei quem foi Godofredo Cruz. Provavelmente um corrupto, assassino ou até um cara de bem. São três e quarenta e seis de uma tarde quente. O jogo está marcado para as quatro. Me sinto só nesse lugar, perdido entre Cabo Frio e o Espírito Santo.
Após passar por uma roleta, um policial procede no ato da abordagem sobre a minha pessoa. Logo chego perto do alambrado e vislumbro a arquibancada de metal e madeira. Umas poucas centenas de goytacazes está espalhada pelas arquibancadas de forma esparsa. É festa. Gritos, reboladas, batucadas, papel picado e uns fogos de artifício comprados recebem o Americano no gramado. Estou acuado num canto temendo o lado canibal de cada goytacaz ali presente. Os norte-fluminenses se irriquietam, vaiam, xingam e expurgam mal agouros sobre a tímida delegação do Friburguense, que entra no campo todo de branco. O jogo começa tenso. Cintra é dois e Hula Hula é um e vinte. Faioli passa por Cadão e chuta. Jéferson salva uma, duas vezes. O estádio se levanta e grita “Canão ê ô, canão ê ô”. Só então descobri que o Americano era o “Canão”. Jogo cadenciado. Faltas, calor, sol, repórteres barrigudos à beira do campo. Jones reclama, é falta pro time da casa. Passou muito perto. “Olê lê ô – Alvi negrô”. Intervalo com direito a mijada no muro. Começa o segundo tempo. Famílias, capiais, jovens morenos. A noite é morta naquela cidade nefasta. A Cintra bateu torto e diferente - quente, dando uma dorzinha de cabeça. Trinta minutos. Passaram rápido. Quatro horas e meia de viagem para ver 75 minutos sem gol. O Friburguense ataca, o coração vai junto. Lançamento perfeito e o bandeirinha levanta seu instrumento. “Filho da puta!” – me escapa. Aos quarenta minutos, sem se dar conta, um tal de Lucrécio Alves, funcionário do estádio encarregado do auto-falante, vai dar uma informação que se revelaria muito importante minutos depois. Pegou o microfone desligou o “mute” e disse: “Substituição no Americano. “Sai Flavinho. Entra, Pinto”. Dois jovens, a uns metros de mim riem e comentam que o pinto entrou etc, enquanto degustam paçocas. Os goytacazes se enfezam e voltam a pensar em suas rotinas deprimentes. Passar o dia num cartório no centro daquela cidade carimbando papel de segunda a sexta para ganhar oitocentos reais no fim do mês. Penso no frio de Friburgo, as cercas vivas, as cachoeiras, as noites de orvalho. Enquanto isso, Marcelo Uberaba pensa mais alto, chega à linha de fundo e cruza a bola na área. O goleiro faz-que-vai-mas-não-vai e Pinto mergulha de cabeça para tocar a bola e estufar a rede. Gritos, barulho, mil e cem pessoas pulando e agitando os braços gordos. Quarenta e sete minutos do segundo tempo. É gol! É gol do Americano de Campos dos Goytacazes! Um grito de “Não é mole não, aqui em Campos ninguém ganha do Canão” ecoa. Fim de jogo. Os refletores se apagam lentamente. “Uh, tá maneiro o Pinto é artilheiro”. São dez e quarenta da noite em uma quinta-feira perdida em Campos dos Goytacazes - um Pinto fodeu a minha noite.
(Por motivos de força maior Adnet ainda nã ganhou u header, mas semana que vem...
QUINTA À NOITE EM CAMPOS DOS GOYTACAZES
Noite de quinta em Campos dos Goytacazes. Que tédio é uma quinta quente e escura em Campos dos Goytacazes! Não só as noites de quinta, mas também os domingos nublados, as terças de chuva e as quartas de sol. Tudo é melancolia em Campos dos Goytacazes. E vejam – não é qualquer campo – é o dos Goytacazes! Não é um campo grande, mourão, São José dos Campos, ou do Jordão. É dos Goytacazes. Índios nadadores e canibais com cabelos longos, raspados na parte central da cabeça. Com o povo de hoje, a única semelhança é a feiúra. Os goytacazes já não comem mais seus semelhantes. Comem coxinha de frango desfiado com catupiry, miojo instantâneo, esfirra e pra hidratar bebem Cintra ou Hula Hula.
Na Praça Central há uma pequena aglomeração de jovens feios, embriagados e morenos, que carregam instrumentos de percussão, cornetas, bolas de encher, Cintra e Hula Hula. E aqui está o motivo de minha viagem a este antro infecto: o estádio Godofredo Cruz. Não sei quem foi Godofredo Cruz. Provavelmente um corrupto, assassino ou até um cara de bem. São três e quarenta e seis de uma tarde quente. O jogo está marcado para as quatro. Me sinto só nesse lugar, perdido entre Cabo Frio e o Espírito Santo.
Após passar por uma roleta, um policial procede no ato da abordagem sobre a minha pessoa. Logo chego perto do alambrado e vislumbro a arquibancada de metal e madeira. Umas poucas centenas de goytacazes está espalhada pelas arquibancadas de forma esparsa. É festa. Gritos, reboladas, batucadas, papel picado e uns fogos de artifício comprados recebem o Americano no gramado. Estou acuado num canto temendo o lado canibal de cada goytacaz ali presente. Os norte-fluminenses se irriquietam, vaiam, xingam e expurgam mal agouros sobre a tímida delegação do Friburguense, que entra no campo todo de branco. O jogo começa tenso. Cintra é dois e Hula Hula é um e vinte. Faioli passa por Cadão e chuta. Jéferson salva uma, duas vezes. O estádio se levanta e grita “Canão ê ô, canão ê ô”. Só então descobri que o Americano era o “Canão”. Jogo cadenciado. Faltas, calor, sol, repórteres barrigudos à beira do campo. Jones reclama, é falta pro time da casa. Passou muito perto. “Olê lê ô – Alvi negrô”. Intervalo com direito a mijada no muro. Começa o segundo tempo. Famílias, capiais, jovens morenos. A noite é morta naquela cidade nefasta. A Cintra bateu torto e diferente - quente, dando uma dorzinha de cabeça. Trinta minutos. Passaram rápido. Quatro horas e meia de viagem para ver 75 minutos sem gol. O Friburguense ataca, o coração vai junto. Lançamento perfeito e o bandeirinha levanta seu instrumento. “Filho da puta!” – me escapa. Aos quarenta minutos, sem se dar conta, um tal de Lucrécio Alves, funcionário do estádio encarregado do auto-falante, vai dar uma informação que se revelaria muito importante minutos depois. Pegou o microfone desligou o “mute” e disse: “Substituição no Americano. “Sai Flavinho. Entra, Pinto”. Dois jovens, a uns metros de mim riem e comentam que o pinto entrou etc, enquanto degustam paçocas. Os goytacazes se enfezam e voltam a pensar em suas rotinas deprimentes. Passar o dia num cartório no centro daquela cidade carimbando papel de segunda a sexta para ganhar oitocentos reais no fim do mês. Penso no frio de Friburgo, as cercas vivas, as cachoeiras, as noites de orvalho. Enquanto isso, Marcelo Uberaba pensa mais alto, chega à linha de fundo e cruza a bola na área. O goleiro faz-que-vai-mas-não-vai e Pinto mergulha de cabeça para tocar a bola e estufar a rede. Gritos, barulho, mil e cem pessoas pulando e agitando os braços gordos. Quarenta e sete minutos do segundo tempo. É gol! É gol do Americano de Campos dos Goytacazes! Um grito de “Não é mole não, aqui em Campos ninguém ganha do Canão” ecoa. Fim de jogo. Os refletores se apagam lentamente. “Uh, tá maneiro o Pinto é artilheiro”. São dez e quarenta da noite em uma quinta-feira perdida em Campos dos Goytacazes - um Pinto fodeu a minha noite.
5 Comentários:
Além de lutar Sumô... jogar gamão... e andar de padalinho... ainda escreve...
Adorei!! Gopinres!!!
Bjs
...Cabofriense eu serei até morrer!Tãrãrãrãrãrã Tãrãrãrã
Tãrãrãrãrãrã Tãrãrãrã...
Perfeito!Dá-lhe Adnet!!!
ú sai do chão é a torcida do Frisão!!
hauhuhauha
final perfeito
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